domingo, 10 de maio de 2020

FÁTIMA E A IGREJA: O POVO ANDOU SEMPRE À FRENTE!

Isto ficou bem evidente na edificação da Capelinha das Aparições, dois anos após o 13 de Maio de 1917. Foi construída por vontade popular e nasceu às mãos de um humilde pedreiro da região chamado Joaquim Barbeiro: iniciou a tarefa a 28 de abril de 1919 e deu-a por concluída a 15 de Junho desse ano.
A capelinha, segundo a tradição, ergue-se mesmo local onde se situava a pequena azinheira onde segundo os pastorinhos Nossa Senhora lhes terá aparecido inicialmente. Poucos meses depois, dessa árvore quase nada restava: os populares foram-se encarregando de retirar-lhe folhas e ramos, pedaço após pedaço, guardando-os como relíquias. E uns carbonários oriundos de Santarém cortaram o que restava do tronco na noite de 23 de Outubro de 1917, passeando-o de seguida em «procissão» na capital do Ribatejo.
As movimentações populares surgidas de forma espontânea em Fátima incomodavam o Governo republicano, fortemente anticlerical. A imprensa republicana de cariz mais ideológico, ligada à Carbonária, procurou mobilizar a opinião pública contra aquilo que denominava de «fenómenos de superstição». Destacaram-se, nesta campanha, o jornal O Mundo, órgão oficial do Partido Democrático, de Afonso Costa, e organizações como a Federação Portuguesa do Livre Pensamento.
Ainda em 1917 estes sectores chegam a organizar uma «peregrinação laica» a Ourém e Fátima, com vistosa escolta da Guarda Nacional Republicana, após o chamado «milagre do sol». Uma ocorrência esporádica que em nada travou as movimentações populares.
O ministro do Interior, António Maria da Silva, chegou a proibir manifestações de índole religiosa em Fátima. Isto levou a imprensa católica, já sem as reservas dos primeiros meses, a apelar abertamente à desobediência civil.
«Vamos lutar contra o Governo», chegará a escrever o jornal O Dia, de orientação católica.
O regime republicano tentou por todas as vias impedir as concentrações populares em Fátima, recorrendo sem cerimónias às forças da GNR para o efeito. Sempre em vão.
Perante a indiferença da polícia, activistas acercavam-se dos peregrinos, insultando-os e por vezes agredindo-os. Em nome do «livre pensamento», o que não deixa de ser irónico.
O ponto culminante desta campanha ocorreu a 6 de maio de 1922, quando a capelinha das aparições foi parcialmente destruída por uma bomba. Por autorização eclesial, já ali era celebrada missa desde 13 de Outubro de 1921.
O atentado causou generalizada indignação: as bombas haviam sido colocadas nos quatro cantos da capela, com a intenção deliberada de reduzi-la a escombros. Mas nem todas eclodiram. E os bombistas alcançaram os efeitos opostos aos que pretendiam: a capela foi rapidamente reconstruida, sempre por exclusiva vontade da população devota, e cada vez mais peregrinos acorreram desde então a Fátima.
As multidões foram engrossando, sobretudo nas duas datas consideradas mais relevantes: 13 de maio e 13 de Outubro. Na segunda metade da década de 20 já ali se juntavam todos os anos entre 100 mil e 200 mil peregrinos.