sábado, 30 de março de 2013

Dez perguntas... e Um diagnóstico

O contrato com Sócrates para ser comentador semanal no canal público de televisão teve de partir, ou de passar, por Relvas. Isso é óbvio. E só a imagem do que terá sido essa negociação a dois dá uma ideia arrepiante, mas bem clara, do estado de degradação extrema a que chegou o regime.
É uma contratação que infelizmente não surpreende porque, na verdade, José Sócrates e Miguel Relvas são políticos siameses. Se olharmos bem para o perfil e para o percurso de um e de outro, a conclusão impõe-se como evidente.
E muitas coisas estranhas se tornam, de repente, claras e compreensíveis.
A história da licenciatura de Relvas foi o primeiro sinal de uma semelhança que se revela bem mais funda: o mesmo fascínio pelo mundo dos negócios, o mesmo desprezo pela cultura e pelo mérito, o mesmo tipo de relação com a comunicação social, o mesmo apego sem princípios ao poder e, acima de tudo, a mesma lata, uma gigantesca lata! Só falta mesmo ver também Sócrates a trautear a "Grândola, Vila Morena", mas por este andar lá chegaremos...
O contrato com a RTP vem, de resto, acentuar mais uma convergência entre Sócrates e Relvas, e num ponto político extremamente sensível, que é o da concessão de serviço público de televisão. Porque, com este contrato, Sócrates aparece a cobrir inteiramente a devastação feita por Relvas no sector, e a bloquear tudo o que o PS pretenda dizer ou propor sobre o assunto. E quem cauciona o que Relvas fez aqui, cauciona tudo.
O que Sócrates deve fazer é assumir as suas responsabilidades na crise, e pedir desculpa aos portugueses - e para isso basta uma entrevista pontual, sóbria, esclarecedora e responsável. É isso que os Portugueses merecem, é disso que a nossa democracia precisa, e é a isso que o Partido Socialista tem direito. Ficar a pastar nos comentários, pelo contrário, é puro circo político, e do pior: é usar o horário nobre do serviço público de televisão para jogadas de baixa política e de pura revanche política pessoal. … MMCarrilho no DN via Porta da Loja

quarta-feira, 27 de março de 2013

também se chama "chômage"


Há 22 meses que o desemprego sobe em França.
Em Fevereiro, o número de pessoas sem trabalho aumentou em 18 mil (mais 0,6% face ao mês precedente), para quase 3,2 milhões, o recorde histórico de 1997. Mas incluindo os territórios ultramarinos e todas as categorias, a França tem quase cinco milhões de desempregados.
Segundo o governo, a taxa de desemprego subiu num ano 10,8%.
O cenário futuro não é o melhor. A economia francesa deverá estagnar ou contrair este ano, de acordo com as previsões, dificultando a missão do executivo, que pretendia inverter a curva do desemprego este ano. © 2013 euronews

terça-feira, 26 de março de 2013

Desinformação sobre Chipre


A qualidade da informação em Portugal é tão fraquinha ao ponto de as pessoas debaterem incessantemente Chipre sem saberem quase nada sobre Chipre, o que obviamente só pode levar a conclusões erradas ou absurdas. Os pontos seguintes são essenciais para perceber as opções da União Europeia em relação a Chipre, mas raramente são mencionados nos debates ou nas notícias:
1. Chipre não tem capacidade de se financiar nos mercados e precisa de ajuda externa.
2. Os maiores bancos cipriotas estão falidos. Falidos mesmo. Não é um problema de liquidez como o Banif ou o BCP, é falidos como o BPN (algumas pessoas também não percebem esta diferença, mas pronto).
3. Só seria possível salvar os bancos cipriotas com injecções de dinheiro a fundo perdido, coisa que a UE não pode fazer porque as regras não o permitem. Nem a UE quer porque isso beneficiaria os infractores que não cumprem as regras do euro.
4. Chipre poderia salvar os bancos assumindo as dívidas destes, como fez a Irlanda. Mas essa opção não é viável. Chipre não teria capacidade para pagar a dívida e a União Europeia não aceita essa opção porque não empresta dinheiro que sabe não poder nunca recuperar. O FMI idem.
Porque é que esta informação é omitida? Porque facilita a narrativa infantil de que a UE e a Alemanha só querem fazer maldades a Chipre e ao Sul da Europa. É isso que as pessoas querem ouvir. Os factos são irrelevantes. por JoaoMiranda no Blasfémias

terça-feira, 12 de março de 2013

como se (re)faz uma “má noticia...em menos de meio dia!

00:06
Exportações deixam de puxar pela economia  O único motor da economia portuguesa parou no último trimestre de 2012. Com a Europa em recessão, será difícil continuar a aumentar vendas lá fora.
11:16
Exportações voltaram a crescer em Janeiro  As vendas de bens ao exterior subiram 5,6% em termos homólogos no primeiro mês do ano, depois de dois meses seguidos de quebras.

domingo, 10 de março de 2013

os demónios não desapareceram, estão apenas a dormir…

O primeiro-ministro luxemburguês não poupou nas palavras: "Quem acredita que a eterna questão da guerra e paz na Europa não pode voltar a ocorrer, está completamente errado. Os demónios não desapareceram, estão apenas a dormir, como foi demonstrado pela guerra na Bósnia e no Kosovo", afirmou em entrevista publicada este domingo na revista alemã Der Spiegel.
Um alerta reforçado pela forma como a União Europeia, e especialmente a Alemanha, está a lidar com a crise grega: "A forma como alguns políticos alemães se têm referido à Grécia, um país severamente atingido pela crise, deixou feridas profundas na sociedade grega. Da mesma forma, assustou-me ver manifestantes em Atenas receber a chanceler alemã, Angela Merkel, envergando uniformes nazis".

"Também a campanha eleitoral italiana foi excessivamente anti-alemã e anti-europeia", considerou Juncker, analisando desta forma as eleições italianas: "Beppe Grillo é principalmente um crítico da classe política. Silvio Berlusconi prometeu baixar os impostos aos cidadãos. O partido que se posicionou em Itália fortemente contra o euro foi a Liga do Norte, que perdeu muitos votos.
Para Juncker, a saída da crise europeia só se conseguirá com mais união entre os países: "[A UE] é a única oportunidade de não ficarmos de fora do mundo. Os chefes de governo de França, Alemanha e Grã-Bretanha estão conscientes de que a sua voz apenas é ouvida internacionalmente porque é transmitido através do megafone da União Europeia".

sábado, 9 de março de 2013

inflação galopante


9 de Fevereiro: Defesa dispensa 13 mil pessoas 
 
Em apenas um mês os despedimentos na administração pública passaram de 13 mil pessoas na defesa para 40 mil pessoas em todos os ministérios. A diferença entre as duas notícias são 27 mil pessoas em 26 dias. Mais ou menos 1000 funcionários públicos por dia. A este ritmo chegaremos a Junho com capas de jornal anunciando 123 mil "dispensas" em toda a administração pública. Informo que a primeira notícia foi desmentida no dia seguinte. Pelos vistos não serviu de nada. por Rodrigo Moita de Deus no 31da Armada
 
os pequenos e médios em acção...

insensibilidade social e arrogância política


O presidente do Banco Central Europeu respondeu ao secretário-geral do PS afirmando que o ajustamento económico em Portugal é inevitável e que ainda há muito por fazer…

domingo, 3 de março de 2013

Panfletos de propaganda

Percorri a generalidade dos sites da imprensa portuguesa. Com algumas excepções, a maioria confunde-se com panfletos de propaganda saídos das catacumbas de um qualquer manifesto político pró-manifestação. Um deles até tem cartazes próprios com ideias para mais logo. Os títulos são genericamente positivos, do estilo "protestar com o coração" ou "pôr o país a cantar a Grândola". Bem sei que quem escreve estas coisas fá-lo porque acredita na causa. Muitos deles não o escondem e fazem apelos directos nas redes sociais à participação da manifestação, que alguns depois vão cobrir. Serei só eu a achar tudo isto um péssimo serviço ao jornalismo?
 
PS: Se em Portugal existisse a tradição ango-saxónica da imprensa assumidamente ideológica, nem um comentário teria sobre isso. Mais, defendo que os órgãos de comunicação social só ganhariam em assumir essa postura. Por exemplo, há um diário português que só perde em não assumir que é um jornal de centro-esquerda. Ganharia em honestidade, em rigor jornalístico, mas também, acredito eu, em vendas. por Nuno Gouveia no 31 da Armada

sexta-feira, 1 de março de 2013

O sistema convidativo

Esta notícia que reporta uma investigação jornalística é muito interessante e vem no Correio da Manhã de hoje.
Resumidamente, os factos, como o jornal os conta, são estes:
Um indivíduo com 57 anos, médico do Porto, exerceu "vários cargos de chefia" no hospital de S. João, no Porto. Parece que até foi assistente universitário de um das cadeiras do curso. Entre 2003 e 2008 foi presidente do INEM e quando Ana Jorge ( PS) era ministra ( num dos governos de José Sócrates) foi consultar para o ministério, até 2011. O quê? Não se sabe por enquanto porque o jornal não diz. Mas pelo caminho que a investigação jornalística leva, um dia destes ainda viremos a saber. Desde Outubro de 2011 o mesmo indivíduo ( na foto) é presidente da Administração Regional de Saúde. Um gestor do Estado. Não é público: é do Estado que é mais precioso.
O mesmo administrador, que é do Porto, quando era presidente do INEM, arrendou uma casa em Lisboa, em 2004. Onde? Começam as coincidências...
Foi no mesmo prédio da rua Braamcamp, onde José Sócrates e a mãe compraram uns magníficos apartamentos a preços convidativos, segundo foi notícia de época, (embora haja quem jure que não, como Herman José que também lá comprou e que jurou terem sido pelos preços certos. Não se sabe muito bem é a quem, com precisão de nomes, mas isso já lá vai). Seja como for, o apartamento arrendado pertence a uma empresa- a Convida, investimentos turísticos e imobiliários- administrada por um certo Paulo Castro. A empresa terá accionistas mas são secretos. O contrato de arrendamento, esse, também é porque ninguém quis dizer ao jornal quanto paga de renda o tal administrador que agora é director da ARS-Lisboa e Vale do Tejo. E quem é o tal administrador da Convida, Paulo Castro?
Ora, é o administrador da empresa Octapharma, em Portugal. A mesma que empregou José Sócrates como caixeiro-viajante para os affaires da América Latina. A mesma que em Portugal domina o mercado do plasma hospitalar e os milhões que movimenta, com uma quota de 60 a 80% do mesmo.
Portanto, resumindo ainda mais: O administrador da Octapharma, Paulo Castro, é também administrador de uma empresa imobiliária cujos donos não se conhecem e que arrendou um apartamento a um funcionário público de luxo, enquanto presidente do INEM, em 2004, consultor do Ministério da Saúde entre 2008 e 2011 e agora presidente da ARS.
A explicação para esta coincidência é dada pelo mesmo administrador da ARS: conhece Paulo Castro há um ror de anos e... são amigos.
Ora...e andam estes jornalistas a desconfiar de pessoas assim que são amigas de longa data e por isso andam a bisbilhotar a vida pública dos mesmos. Isto faz-se?
Ora bem e falando sério: é preciso saber o que consultou Luís Cunha Ribeiro, desde 2008 a 2011, no Ministério da Saúde. Exactamente o quê e porquê. Onde colocou o nome assinado, onde interveio como consultor, quando ganhava pelo tacho etc etc.
Depois disso é preciso saber que tipo de relação de amizade pode justificar um contrato de arrendamento de um apartamento, por coincidência no mesmo prédio em que também estava a morar o primeiro-ministro de então, feito a uma empresa que era administrada pelo responsável, em Portugal , de uma multinacional farmacêutica que em 2008 conseguiu vários milhões de euros de negócios com o Estado e o ministério da Saúde em particular, onde aquele inquilino era consultor (mas o que é que consultou, santo Deus? Pode saber-se, ao certo?).
Tudo isso por uma razão que é importante explicar: um gestor do Estado não deve aceitar viver num apartamento que arrendou a um amigo que é simultaneamente interessado em grandes negócios com o mesmo Estado e em que aquele inquilino está em posição de eventual conflito de interesses.
Para já o assunto é meramente ético. Depois, se o jornal descobrir mais coisas, logo se vê.
Evidentemente, eticamente isto é uma grande vergonha. Para quem a tem, naturalmente.
Ah! Já me esquecia: o senhor não tem condições nenhumas para continuar a ser presidente de ARS alguma.  no Porta da Loja