domingo, 9 de novembro de 2025
sábado, 8 de novembro de 2025
SDS ou Historia para os mais novos (e para os velhos iliteratos)
Em 25 de Março de 2007 teve lugar a finalíssima do concurso da RTP Os Grandes Portugueses. Era uma data importante para a estação pública de televisão, que fazia meio século. Para a comemoração, que coincidia com o final do programa, estava previsto um banquete. A mesa estava posta nos estúdios e era farta… até que se soube o resultado do concurso. Então, apagaram-se os holofotes, desceu sobre a festa uma cortina de incrédulo desconcerto, mergulhando-a como que numa longa noite de clandestinidade, e o banquete para ali ficou, suponho que intocado.
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Os finalistas do concurso incluíam reis, como o fundador D. Afonso Henriques ou D. João II, o Príncipe Perfeito, Nun’Álvares Pereira, o Condestável, figuras de proa da expansão marítima, como o Infante D. Henrique e Vasco da Gama, grandes poetas, como Luís de Camões e Fernando Pessoa, e estadistas controversos, como o marquês de Pombal.
Mas apesar do peso histórico de todos esses grandes portugueses, os primeiros três entre os dez que ficaram das sucessivas eliminatórias eram todos do século XX e todos “políticos”: Salazar, da direita nacional, conservadora e autoritária, Álvaro Cunhal, da esquerda comunista, internacionalista e totalitária e Aristides Sousa Mendes, um centrista, celebrado pela sua acção humanitária, ao facilitar, no consulado de Portugal em Bordéus, passaportes portugueses para judeus perseguidos.
Ganhou Salazar, com 41% dos votos, seguido por Álvaro Cunhal, com 19,1%, e Aristides Sousa Mendes, com 13%. Sousa Mendes era defendido pelo José Miguel Júdice, Cunhal pela deputada Odete Santos, e Salazar por Jaime Nogueira Pinto.
Diga-se que, na altura, mais ainda do que agora, não havia quem quisesse dar-se ao trabalho de defender Salazar fora do aconchego do lar ou de um táxi – onde geralmente se optava pela modalidade “um Salazar em cada esquina”, então em voga (o Salazar em três pessoas distintas, dois para se contradizerem e um para desempatar, ainda não tinha cá chegado). Por isso, quando o convidaram, Jaime Nogueira Pinto perguntou se esperavam que o defendesse como advogado ou como historiador. Disseram-me que devia defender Salazar como advogado, ou seja, podendo valorizar os aspectos positivos do meu “cliente” e justificar, sem os omitir, os negativos.
A vitória do “ditador,” do “fascista” António de Oliveira Salazar[*] – um candidato só admitido a concurso à última hora e por força dos protestos contra a sua ausência da lista dos elegíveis – deveu-se a um fenómeno muito português de reacção ao silenciamento e à manipulação ideológica, que encontrava no concurso uma brecha para se expressar. Não era, evidentemente, uma apreciação serena da História de Portugal, em que o Fundador e o Condestável, por exemplo, essenciais à independência do país, ou o Infante D. Henrique, D. João II e Vasco da Gama, figuras-chave da expansão que deu massa crítica ao Reino para escapar à atracção centralista de Castela-Espanha, assumiriam maior importância.
O que estava em jogo era um jogo. E o jogo era político. Talvez por isso, tal como na América, em França e em Inglaterra (onde ganharam Reagan, De Gaule e Churchill), aqui as personagens do século XX dominaram. E houve também um alinhamento ideológico à volta de dois “extremos” que, nalgumas coisas, se tocavam – Salazar e Cunhal eram dois homens inteligentes, convictos e coerentes nas suas convicções, muito diferentes entre si, mas também muito diferentes, para o bem e para o mal, dos “moderados”, dos “rolhas”, dos pequenos, grandes e médios corruptores activos ou passivos que muita gente via e vê no grosso da classe política.
Essa vitória de Salazar, do “fascismo”, ainda que só num concurso, foi talvez o primeiro balde de água fria que inesperadamente caiu sobre os “fazedores de opinião”, uma premonitória surpresa desagradável, que receberam com a incredulidade ofendida de quem está perante uma vil traição.
Ao contrário dos “fazedores de opinião”, cuja opinião contribuíra para manipular com grande sucesso o Dr. Cunhal, quando usava para os seus fins e para os da União Soviética o ardil do “nazi-fascismo de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar”, sabia bem que aquela sua via rápida de Auschwitz à António Maria Cardoso não passava de um ardil. E que não eram minimamente comparáveis, até em número relativo de presos políticos, a repressão do Estado Novo e o holocausto hitlerista; e muito menos os desmandos e sevícias do Estado Novo e as carnificinas comunistas do maoismo e do sovietismo. Respeito quem é coerente e se bate pelos seus ideais até à prisão e à morte, mas os “excessos” do Estado Novo e do hitlerismo ou do comunismo soviético e chinês não são nem podem ser realidades comparáveis. Jaime Nogueira Pinto tentou explicá-lo quando defendeu Salazar. E não tendo sido salazarista no tempo de Salazar, tendo combatido o marcelismo e tendo vivido toda a minha vida consciente na oposição, antes e depois do 25 de Abril, achou que podia fazê-lo com independência e à vontade.
Mas em Portugal, onde o golpe militar de Abril, o PREC e o domínio dos instrumentos culturais e mediáticos pela Esquerda condicionaram a percepção da História do século XX, estipulou-se que o lugar de Salazar era na galeria dos horrores; e para que os figurantes da galeria continuem a desempenhar o conveniente papel de espantalhos ou papões que a Esquerda lhes atribuiu, carrega-se-lhes nas cores até à caricatura e enxota-se toda a vontade de distância crítica, de análise, de verdade, com esperança de que o povo ignore as tristezas do presente e vá atrás.
Entretanto, quando alguém, por provocação e porque sabe para quem fala, se mostra subitamente imune ao Salazar’s Derangement Syndrome (SDS) – um reflexo local do famoso Trump’s Derangement Syndrome (TDS), que alastra pela Euro-América e acomete o entendimento e a capacidade de análise e de relativização –, rasgam-se vestes, fazem-se exaltadas referências à inconstitucionalidade das “apologias do fascismo”, esconjura-se a suposta beatificação de uma qualquer trindade salazarista, evoca-se Hitler…
É, infelizmente, o que tem vindo a acontecer a muitos dos que, atingidos cumulativamente pelo SDS e pelo TDS, têm a nobre missão de nos informar: à menção do nome-gatilho, vai-se-lhes abaixo o entendimento e entram em falência interna e externa, ignorando supostas objectividades e amalgamando atabalhoadamente passado, presente e futuro, muitas vezes sem que se deem conta.
Nesse Domingo de Março de 2007, quando ainda não havia Trump e Salazar era um só, o choque era mais compreensível.
Tanto que, quando Odete Santos, desolada perante a “vitória do fascismo”, invocou o anti-fascismo da Constituição, tive de ser eu a acalmá-la, dizendo-lhe que o regime não tinha caído, que era apenas um concurso.
[*] Os que chamam a Salazar “fascista” só me lembram os que chamavam “comuna” ao Dr. Soares
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
A angústia do jornalista
Porque é que, quando têm de entrevistar o líder do CHEGA, os jornalistas e comentadores ficam de repente estúpidos?
A cena repete-se há anos. Ninguém parece querer ou ser capaz de fazer perguntas a André Ventura. Estão ali para o contradizer, para o desmentir, para lhe chamar nomes. Não são nem nunca foram assim com nenhum outro entrevistado. Álvaro Cunhal, que em 1975 tentou fazer abortar a democracia em Portugal, foi sempre entrevistado com urbanidade, apesar das suas incontornáveis “cassetes”.
Obtêm os entrevistadores, com os seus impropérios, alguma coisa de André Ventura? Não.
É talvez o lado mais absurdo de tudo isto.
De entrevista em entrevista, todos já deviam ter aprendido que Ventura não se deixa intimidar por más maneiras, e que vai preparado para armadilhas. Também seria de esperar que soubessem outra coisa: que os ataques do entrevistador dão uma enorme vantagem a Ventura. Outros entrevistados têm de responder a perguntas, ou correr o risco de parecer que não respondem; Ventura só tem de rebater e retribuir agressões e pedradas.
Os jornalistas e os comentadores não percebem isto? As pessoas, não sendo estúpidas, só se comportam como se o fossem por duas razões: ou quando não compreendem a situação, ou quando, compreendendo, o medo – a pior das emoções — as paralisa ao ponto de não conseguirem agir de modo inteligente. O segredo da entrevista a André Ventura parece-me que está aqui: diante de Ventura, o jornalista e o comentador são gente assustada. Mas não é Ventura que lhes mete medo. São os outros: todos os que o entrevistador imagina que o estejam a ver, ouvir ou ler a entrevistar André Ventura. É a pressão dessa multidão imaginária que torna estúpido o entrevistador.
O cerco que a esquerda e parte da direita montaram a André Ventura não dissuadiu 1,5 milhões de portugueses de fazerem do Chega, em seis anos, o segundo maior partido parlamentar. Não se deixaram intimidar. Mas aqueles que lutam por empregos, posições e destaque no sistema mediático, esses, sim, ficaram apavorados. A tese de que não se deve “dar plataforma” ao Chega ou de que o Chega não pode ser “normalizado” tornou a entrevista a André Ventura no exercício mais perigoso do jornalismo em Portugal. Diante de Ventura, o entrevistador sabe que toda a gente o está a vigiar. Vai ele deixar Ventura falar? Vai ele tratá-lo como a qualquer outro entrevistado? Ai dele: estará a incorrer no crime de lhe “dar plataforma” e de o “normalizar”. Por isso, a preocupação principal do entrevistador, perante Ventura, não é levá-lo a responder a perguntas, mas distanciar-se dele, mostrar que nada tem a ver com ele, pelo recurso primitivo de o afrontar e insultar.
Há, no jornalismo, activistas anti-Chega. Mas mesmo a manifestação do preconceito, de tão ostensiva, precisa de ser explicada, porque é regra, em relação a tudo o mais e por uma questão de profissionalismo, o jornalista tentar passar por imparcial. Só em frente de Ventura o fanático julga que pode ou até deve expor o seu fanatismo. Até o mais encartado activista se sente obrigado a exibir excesso de zelo. Não está menos assustado.
Numa entrevista a Ventura, é como se quem estivesse a ser entrevistado não fosse Ventura, mas o entrevistador. Funciona, para os entrevistadores, como uma espécie de entrevista de emprego. É a ocasião de provarem que nada têm a ver com Ventura e, por isso, merecem a consideração e as posições que têm ou a que aspiram. Tal como quando classificam os debates de Ventura, não estão a pensar no líder do Chega, mas nos colegas e correligionários que os possam acusar de simpatia pelo diabo ou de pouca fé, e fazê-los “cancelar”. Não lhes interessa a verdade, mas apenas serem aceites.
terça-feira, 4 de novembro de 2025
Tudo pela noção no Observador, nada contra a noção de Rui Antunes
André Ventura disse, e repetiu, que eram necessários três Salazares para meter o país na ordem. Muita gente, à esquerda e na direita moderada, ficou chocada e indignada como se o líder do Chega tivesse ultrapassado um novo limite intolerável. Mas, na verdade, não é novidade. Ventura já tinha recuperado, em 2021, o slogan do Estado Novo “Deus, Pátria e Família”, acrescentando um quarto braço: o Trabalho. E foi sempre, propositadamente, equívoco quando confrontado com saudosismos do Estado Novo.
As provocações de Ventura são recorrentes e pretendem, acima de tudo, agitar as águas e ganhar palco mediático e mais uns minutinhos de antena. O que neste caso foi um objetivo atingido com sucesso. Isso não significa, porém, que o líder do Chega seja inimputável como se fosse um tolo e que não possa ser criticado e avaliado com os mesmos critérios de qualquer outro líder partidário. Manuela Ferreira Leite, por exemplo, foi altamente criticada quando disse, com alguma ironia à mistura, “não sei se não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois venha a democracia”.
Ventura é hoje o líder da segunda maior bancada do Parlamento, do terceiro maior partido em votos, tem eleitos por todo o país e o partido lidera três autarquias. Tem, por isso, de ser escrutinado como qualquer líder partidário. Inclusive, nos disparates que diz. E o que disse sobre Salazar foi, efetivamente, um disparate.
O líder do Chega tem dito que “não é defensor” de Salazar e, antes de invocar o nome do ditador, chegou a dizer “eu sou um democrata”. Daqui depreende-se duas coisas: Ventura não defende o salazarismo e entende que Salazar era anti-democrata. Não resistiu, no entanto, a defender o Estado Novo quando disse, na CNN no último sábado, que a “literacia de 1926 a 1950, passou 20 e tal por cento para 50%”. Um novo disparate, por omissão.
Seja comparando com 1968, quando Salazar caiu da cadeira, seja com 1974, quando o regime caiu, os dados mostram claramente que até ao 25 de Abril Portugal era dos países mais atrasados e com as maiores taxas de analfabetização da Europa. Uma das grandes conquistas da democracia foi conseguir praticamente a erradicação do analfabetismo nos mais jovens e a redução da taxa nacional para percentagens marginais (havia 3,1% de analfabetos em 2021 e a maioria de pessoas são pessoas que nasceram no antigo regime). A velocidade com que se combateu o analfabetismo em democracia foi incomparavelmente superior ao Estado Novo, principalmente nas zonas rurais.
Mesmo não sendo fã de Salazar, André Ventura fala recorrentemente do período pós-revolucionário, do verão quente, das FP-25 de Abril, das malfeitorias dos comunistas, mas nunca criticou a polícia política, a censura, o unipartidarismo, o corporativismo e a autocracia do Estado Novo. Ainda tem, depois, o topete de — na mesma câmara onde um dia só se sentaram deputados da União Nacional — dizer que eram precisos três Salazares. Um já seria demasiado. Um já foi demasiado.
Dizer que no tempo de Salazar não havia corrupção, é uma falácia. O primeiro-ministro, aliás, respondeu da melhor forma a Ventura, dizendo “a ditadura é ela própria a corrupção”. No tempo de Salazar, a corrupção e o nepotismo eram uma forma de estar. Se o homem de Santa Comba Dão teve uma vida regrada (nasceu pobre e não morreu rico — o que parece ser uma medalha para os saudosistas do Estado Novo), muitos dos senhores do regime enriqueceram num país esmagadoramente empobrecido. O encobrimento de escândalos dos poderosos e uma justiça que protegia só alguns, bem como o boicote permanente à separação de poderes, são a maior prova que o Estado Novo era em si um regime corrupto e corruptível.
Ventura ganhou, no curto prazo, o mediatismo que queria com a história dos Salazares. Mas cometeu um erro estratégico a médio-longo prazo. Desde logo, prestou um péssimo serviço à direita. Desde 1974 que os membros do CDS (e também do PSD) são chamados de fascistas. Basta ver Freitas em 1986. Já em 2004 continuava a ouvir-se nas ruas palavras de ordem da esquerda como “Portas e Santana/fascismo à paisana”. O próprio Passos Coelho, entre 2011 e 2017, também não escapou a essas acusações, só para dar alguns exemplos. A direita democrática sempre combateu esses rótulos, basta ver como Santana Lopes atirou a Fernando Rosas quando o bloquista lhe disse num painel de comentário que parecia o antigo ditador a falar. “Salazar é a sua tia”, respondeu Santana.
O próprio Chega tem-se esforçado para rebater a ideia de que os seus membros são fascistas, etiqueta que lhe é dada recorrentemente desde a fundação em 2019. Este tipo de comparações agora utilizadas por Ventura não ajudam à causa. Depois de chegar aos 23% nas legislativas — e ignorando o artifício da candidatura presidencial — Ventura tem alguns anos para convencer a parte do país que lhe falta de que não é extremista e que não seria um perigo para a própria democracia. Se é verdade que para a esmagadora maioria dos 23% não faz grande confusão que Ventura fale de Salazar ou não, para o eleitorado que tem de ir buscar ao centrão político, este tipo de analogias são das que assustam eleitores.
Na mesma linha, os novos cartazes do Chega também seriam dispensáveis. “Isto não é o Bangladesh”, que o Chega colocou nos outdoors, é uma frase verdadeira. É factual que estamos em Portugal e não no Bangladesh. Mas também é uma sonsice fingir que é apenas uma constatação factual. A frase faz parte de um vídeo viral criado por Inteligência Artificial que tem expressões racistas (mesmo que criadas para efeitos humorísticos) como “tira os putos castanhos da minha creche”, “raça inferior” ou “mal se consegue andar com tanto monhé”. O mesmo vídeo chega até a objetificar Rita Matias quando fala das suas “montanhas”, numa alusão desrespeitosa aos seios da deputada do Chega.
Não é difícil imaginar o que sentem os imigrantes do Bangladesh ao passarem pelo cartaz. Em dezembro de 2015, a sede do Clube Português de Brie-Comte-Robert, a sudeste de Paris, foi vandalizada, alegadamente por membros da então Frente Nacional, de Marine Le Pen. Na fachada desse clube foi escrita a seguinte frase: “Morte aos portugueses. Assinado: Frente Nacional”. Basta projetar o que os portugueses nessa zona da grande Paris terão sentido.
André Ventura acumula erros. Mesmo com ganhos a curto prazo para se afirmar como o mais anti-sistémico na luta particular com Henrique Gouveia e Melo, isso no máximo dá-lhe para ganhar a primeira volta das Presidenciais antes de ser trucidado nas urnas como o Le Pen pai e a Le Pen filha acabaram por ser em França mesmo contra fraquíssimos candidatos, como um desgastado Chirac ou um incompetente Macron.
A grande luta de Ventura não é, como se cenariza por aí, presidencializar o regime e governar a partir de Belém. Até porque uma maioria de dois terços para rever a Constituição nesse sentido (que seria necessária) é bem mais difícil de atingir (principalmente com outro candidato a primeiro-ministro) do que o próprio Ventura vir a ter uma maioria parlamentar. E, para esse objetivo, esta nova estratégia de Ventura não é eficaz. Pelo contrário, prejudica-o.
Se Ventura um dia for primeiro-ministro é, obviamente, pelas regras do jogo democrático. É o único que o eleitorado entende e respeita, mesmo que existam uns quantos ignorantes nos autocarros a dizer que “isto no tempo do Salazar é que era” e outros tantos patriotas de pacotilha a vomitar odes ao salazarismo nas redes sociais. Também não vale a pena a esquerda tentar ilegalizar o Chega por causa de cartazes xenófobos ou referências saudosistas e parolas ao salazarismo, porque isso seria sempre visto pelo povo (que é quem mais ordena, não são os juízes do Palácio Ratton) como uma vitória na secretaria. Se os outros partidos querem combater o Chega, têm de o fazer dentro do campo democrático. E se o Chega quer ser poder, tem de se moderar. Ventura devia ouvir mais vezes, se eventualmente tiver, conselheiros que pensem a política com ele. Em particular, aqueles que lhe possam dar algum filtro. Devia inspirar-se na adaptação de uma frase de Salazar que o afastasse do conservadorismo anacrónico e o aproximasse de convencionalismo moderno, que é necessário para crescer eleitoralmente: tudo pela noção, nada contra noção. Está a precisar.
domingo, 2 de novembro de 2025
sábado, 1 de novembro de 2025
Não fora o 25 de Novembro...
Em Setembro de 1975, Álvaro Fernandes, oficial do COPCON, às ordens de Otelo Saraiva de Carvalho, entregou a Isabel do Carmo e Carlos Antunes, dirigentes do PRP/BR, cerca de 1000 G3, subtraídas ao Depósito de Armamento do Exército Português. Naquela altura, todos os partidos tinham armas, embora nunca oficialmente. A norte, os ataques às sedes do PCP, tinham como resposta tiros de pistola ou metralhadora por parte de quem defendia as sedes. São vários os relatos, à esquerda e à direita, sobre a posse ou intenção de possuir armas. Havia armas em mãos de populares “para a defesa da revolução” ou “da reação”, conforme o lado em que se encontrassem, ainda que a convicção é que haveria mais nos movimentos revolucionários.
O que tornava diferentes estas armas na posse de Isabel do Carmo e Carlos Antunes? Primeiro, tinham sido retiradas de forma clara por um oficial do Exército Português, dependente hierarquicamente de Otelo e entregues a um grupo radical que vivia sob a proteção do Copcon. Segundo, porque foram entregues a um grupo de pessoas que nem sequer se constituíra como partido político e que se recusava a jogar segundo as regras da democracia, sem sequer ter concorrido às eleições de 25 de abril de 1975. Terceiro, porque esse grupo de ativistas tivera origem num grupo terrorista, criado, é certo, antes do 25 de Abril, mas que se tornara um dos movimentos mais radicais no espaço político do PREC e que, como sabemos, teria duas metamorfoses: o PRP/BR, até à prisão dos seus principais dirigentes e operacionais, em junho de 1978, e a segunda, mais radical, que a partir deste movimento se transformou nas sangrentas FP-25 de Abril dirigidas por Otelo, Mouta Liz e Pedro Goulart.
“O socialismo nunca se instaurou em sítio nenhum por eleições. União Soviética, China, Cuba fizeram uma revolução para instaurarem o socialismo. Até porque a burguesia não se deixa derrubar por via pacífica. O socialismo não é, pois, um presente de Natal, é uma conquista pela força” — explicava Isabel do Carmo ao jornal Expresso em maio de 1975.
O governo de Pinheiro de Azevedo tinha a preocupação de restabelecer a disciplina no Exército e de pôr fim às milícias populares existentes tanto a norte como a sul. Em virtude do elevado número de armas não legalizadas nas mãos de civis, o risco de confrontos armados ou da criação de novas milícias populares era demasiado perigoso.
Por outro lado, atendendo às pressões exercidas pela opinião pública, foi exigido a Carlos Antunes e Isabel do Carmo que devolvessem as armas que possuíam. Estes recusaram firmemente e encontraram uma solução criativa. De forma a preservar e defender o paiol de armamento que possuíam — onde se incluíam as mil G3 —, decidiram que o BR deveria passar à clandestinidade, levando consigo todo o material armazenado.
Mas antes, a 15 de outubro, porque a clandestinidade era financeiramente exigente, assaltaram o Banco Totta & Açores em Mira de Aire e o Banco de Angola na Damaia, a 21 do mesmo mês, levando 281 e 4237 contos — o equivalente hoje a mais de 200 mil e 700 mil euros, respetivamente (valores de setembro de 2025). Para onde foi esse dinheiro? Perguntem a Isabel do Carmo, a Gobern Lopes, entre outros.
E quais forma os primeiros atentados das BR agora na clandestinidade? A bomba de gás lacrimogénio na manifestação de apoio a Pinheiro de Azevedo (isto é só fumaça), uma bomba colocada na sede do CDS e o ataque à bomba a 5 esquadras da PSP, em Lisboa.
Se, pelo menos na frente civil, as Brigadas Revolucionárias já tinham assegurada a manutenção de milícias privadas, havia que garantir também a lealdade ideológica dentro do Exército e a submissão deste à revolução socialista. Em finais de agosto, foram criados os SUV – Soldados Unidos Vencerão, com o objetivo de formar células políticas dentro do Exército, garantindo que, no momento certo, pudessem atuar de forma autónoma em relação à hierarquia militar. Ainda que a vida deste movimento tenha sido efémera, algumas manifestações com tropa fardada assustaram muitos dos militares da ala mais moderada.
Durante este período, e através de declarações de ex-operacionais, é possível saber que o PRP/BR chegou a equacionar a execução de Jaime Neves e de Pires Veloso. A ideia surgiu em novembro de 1975, quando, numa reunião do COPCON, Otelo informou que já não poderia apoiar o movimento. Os passos e rotinas de Jaime Neves eram conhecidos. Tudo seria feito através da colocação de um engenho explosivo debaixo do carro de Jaime Neves. Sobre Pires Veloso, foi efetuada uma reunião secreta em Campo de Ourique, com um grau de planeamento semelhante. No entanto, a alteração da situação política que culminou no 25 de novembro acabou por enfraquecer essa intenção e redirecionar os esforços noutro sentido – a criação do grupo terrorista do PRP/BR.
Manuel Castelo Branco
sexta-feira, 31 de outubro de 2025
terça-feira, 14 de outubro de 2025
o Eixo do Mal e Daniel Oliveira
um caso clinico para "memória futura"
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Uma Racista que esteve Vereadora
num "jornal" que espero já náo exista
terça-feira, 9 de setembro de 2025
Daniel Oliveira SIC (para memória futura!)
sábado, 6 de setembro de 2025
O Fenómeno do Seguidismo na Esfera Pública
O "seguidismo", no contexto que descreves, refere-se à adesão acrítica a ideias, narrativas ou discursos dominantes, muitas vezes impulsionada por um espírito de imitação em vez de uma análise independente e crítica. Este fenómeno é particularmente visível em ambientes onde a informação circula rapidamente e a pressão para alinhar com certas posições é forte, seja por conveniência política, editorial ou social.
A Reprodução de Narrativas e a Diluição do Espírito Crítico
Quando uma figura pública de influência, como Alexandra Leitão no exemplo que apresentaste, emite uma declaração específica – "não vai pedir a demissão de Carlos Moedas" e que o "grande erro de Moedas é uma conferência de imprensa sem direito a perguntas" – e essa declaração é subsequentemente adotada e replicada de forma quase literal por órgãos de comunicação social ou comentadores, estamos perante um exemplo de seguidismo.
Esta replicação pode ocorrer por diversas razões:
* **Validação da Fonte:** A credibilidade da fonte original (neste caso, uma figura política proeminente) pode levar à aceitação e disseminação das suas ideias sem uma análise aprofundada.
* **Alinhamento Editorial:** Certos meios de comunicação podem ter um alinhamento editorial que favorece a amplificação de determinadas narrativas políticas, negligenciando perspetivas alternativas ou críticas.
* **Pressão do Ciclo de Notícias:** No ritmo acelerado das notícias, há uma tendência para os meios de comunicação e comentadores replicarem rapidamente as declarações de figuras influentes, por vezes sem o tempo ou os recursos para um exame mais aprofundado.
* **Evitar a Controvérsia:** Seguir a linha de pensamento estabelecida pode ser uma forma de evitar a controvérsia ou o confronto, especialmente em tópicos sensíveis.
O perigo inerente a este seguidismo reside na erosão do espírito crítico. Quando a imitação prevalece sobre a análise independente, a pluralidade de opiniões é comprometida, e o público é exposto a uma visão unilateral ou enviesada dos acontecimentos. A função primordial da imprensa e dos comentadores, que é a de questionar, analisar e contextualizar, é diminuída, transformando-os em meros repetidores de discursos pré-fabricados.
Implicações para o Debate Público
Este tipo de comportamento tem implicações significativas para a qualidade do debate público. Impede uma discussão robusta e multifacetada, essencial para uma democracia saudável. Em vez de encorajar os cidadãos a formarem as suas próprias opiniões com base em diversas perspetivas, o seguidismo pode levar à conformidade e à aceitação passiva de narrativas, dificultando a distinção entre factos, opiniões e propaganda.
"Quais são os mecanismos psicológicos e sociais que contribuem para a disseminação do seguidismo em sociedades democráticas?", aborda a complexidade subjacente a este fenómeno. O seguidismo não é meramente uma escolha consciente, mas sim o resultado de uma interação de fatores psicológicos e pressões sociais que moldam a forma como os indivíduos processam e reagem à informação e às opiniões alheias.
Mecanismos Psicológicos e Sociais do Seguidismo
A disseminação do seguidismo em sociedades democráticas pode ser explicada por vários mecanismos interligados:
A conformidade é um dos pilares do seguidismo. Os indivíduos sentem uma forte pressão para se alinharem com as normas, crenças e comportamentos do grupo a que pertencem ou com o qual se identificam. Esta pressão pode ser de dois tipos:
Conformidade Normativa: O desejo de ser aceite e evitar a rejeição social. As pessoas adaptam as suas opiniões para se encaixarem, mesmo que internamente discordem, para manter a harmonia e o status social.
Conformidade Informativa: O desejo de estar correto. Em situações ambíguas ou quando não têm conhecimento suficiente, os indivíduos procuram os outros (especialmente aqueles percebidos como especialistas ou maioria) como fonte de informação válida, assumindo que as opiniões da maioria são as corretas.
Em ambientes democráticos, onde a opinião pública e o consenso são valorizados, a conformidade pode levar à supressão de opiniões divergentes e à adoção passiva de narrativas dominantes.
2. Prova Social (Social Proof)
Este mecanismo está intimamente ligado à conformidade informativa. Quando não temos a certeza de como agir ou pensar, tendemos a olhar para o que os outros estão a fazer e a assumir que essa é a ação ou crença correta. Se muitos jornalistas, comentadores ou figuras políticas proeminentes adotam uma certa perspetiva, os indivíduos podem ser levados a crer que essa perspetiva é a mais razoável ou verdadeira, sem a submeterem a um exame crítico. É o "efeito rebanho" em ação, onde a popularidade de uma ideia é confundida com a sua validade.
3. Viés de Confirmação (Confirmation Bias)
Os indivíduos tendem a procurar, interpretar e recordar informações de uma forma que confirma as suas crenças ou preconceitos preexistentes. Se uma pessoa já tem uma inclinação para apoiar um certo partido político ou uma ideologia, será mais recetiva a notícias e comentários que validem essa inclinação e mais cética em relação a informações que a contradigam. O seguidismo é reforçado quando as narrativas dominantes se alinham com os enviesamentos de confirmação de uma grande parte da população.
4. Pensamento de Grupo (Groupthink)
O pensamento de grupo ocorre em grupos coesos onde o desejo de harmonia ou conformidade no grupo resulta numa tomada de decisão irracional ou disfuncional. Os membros do grupo minimizam o conflito e alcançam uma decisão de consenso sem uma avaliação crítica das ideias ou uma consideração de alternativas. Em contextos mediáticos ou políticos, isto pode manifestar-se quando editores, comentadores ou políticos de um mesmo espectro evitam desafiar a "linha" estabelecida, levando a uma monocultura de pensamento.
5. Heurísticas e Atalhos Cognitivos
O cérebro humano está constantemente a processar uma quantidade avassaladora de informação. Para lidar com isso, usamos atalhos mentais (heurísticas) que nos permitem tomar decisões e formar opiniões rapidamente, mas que também podem levar a erros sistemáticos. Por exemplo, a heurística da disponibilidade leva-nos a superestimar a probabilidade de eventos ou a validade de ideias que são mais facilmente recordadas ou que são mais frequentemente noticiadas. Se uma narrativa é constantemente repetida, torna-se "disponível" e é mais facilmente aceite.
6. Autoridade e Credibilidade Percebida
Tendemos a dar mais peso às opiniões de figuras que percebemos como autoridades ou especialistas. Se uma figura política com um historial de credibilidade ou um comentador respeitado expressa uma opinião, é mais provável que essa opinião seja aceite e replicada sem um escrutínio rigoroso. A aura de autoridade pode inibir o questionamento crítico, mesmo quando a lógica da afirmação é falha ou enviesada.
Estes mecanismos, operando em conjunto, criam um terreno fértil para o seguidismo, onde a imitação e a adesão acrítica a ideias prevalecem sobre a análise independente, comprometendo a vitalidade do debate democrático.
"Que medidas podem os órgãos de comunicação social e os comentadores adotar para promover uma análise mais independente e plural, contrariando a tendência para o seguidismo?", é crucial para mitigar os efeitos deste fenómeno e fortalecer o debate público. A responsabilidade dos meios de comunicação e dos comentadores é fundamental neste processo.
terça-feira, 2 de setembro de 2025
Impacto da Ascensão do Partido CHEGA no Panorama Político Português
A ascensão do CHEGA representa uma mudança significativa no panorama político português, que tradicionalmente foi dominado por um bipartidarismo entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). O impacto desta ascensão, a meu ver, pode ser analisado em várias vertentes:
- Quebra do Bipartidarismo:
A principal consequência é a erosão do modelo bipartidário. A presença de uma terceira força política robusta no parlamento, com uma representação significativa, dificulta a formação de maiorias absolutas e obriga os partidos tradicionais a procurar novos equilíbrios e alianças.
- Polarização do Debate Político:
O CHEGA trouxe para o centro do debate temas que antes estavam nas margens, como a imigração, a segurança, a justiça e a corrupção, com abordagens muitas vezes radicais e polarizadoras. Isto força os outros partidos a posicionarem-se sobre estas questões, contribuindo para uma maior clivagem ideológica.
- Influência na Agenda Política:
Mesmo sem fazer parte do governo, a dimensão do CHEGA no parlamento confere-lhe uma capacidade de influência na agenda legislativa e no debate público, pressionando os partidos do centro a adotar algumas das suas preocupações ou a reformular as suas próprias propostas para não perderem eleitorado.
- Dificuldade na Formação de Governos (o “não” é não”!):
A fragmentação parlamentar resultante da ascensão de novos partidos torna mais complexa a formação de governos estáveis, podendo levar a soluções de governo minoritárias ou a coligações mais amplas e, por vezes, menos coesas.
- Desconfiança nas Instituições:
O discurso antissistema e de desconfiança nas instituições, uma marca de partidos populistas, pôde contribuir para um aumento da desilusão cívica e para uma menor participação eleitoral, ou, paradoxalmente, para uma maior mobilização de eleitores insatisfeitos.
Em suma
a emergência do PARTIDO CHEGA alterou profundamente a dinâmica política portuguesa, desafiando as lógicas estabelecidas e introduzindo novos desafios para a governabilidade e a representação democrática.
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
autarcas de saida ...
Do total de presidentes em final de mandato, 54 são socialistas, 30 do PSD (sozinho ou coligado), 12 do PCP-PEV (de um total de 19 câmaras desta coligação), três do CDS-PP (de seis municípios), um é o único presidente do Juntos Pelo Povo (JPP), Filipe Sousa, autarca em Santa Cruz, na Madeira, e cinco são independentes, entre os quais Rui Moreira, que está de saída da presidência da Câmara do Porto.
Nas principais autarquias do país, o PSD precisa de encontrar um candidato que substitua Carlos Carreiras em Cascais (no distrito de Lisboa), Ricardo Rio em Braga, Rogério Bacalhau em Faro e Ricardo Gonçalves em Santarém, autarca que nos últimos dias foi apontado para dirigir o Instituto Português do Desporto e Juventude, com o próprio a confirmar o convite, embora ainda sem uma decisão oficial.
O PSD tem ainda de encontrar um sucessor para José Ribau Esteves, com três mandatos à frente de Aveiro, depois de já anteriormente ter cumprido o limite de mandatos na Câmara de Ílhavo (entre 1997 e 2013).
Entre outros, o PS tem em fim de mandato Basílio Horta em Sintra (Lisboa), Eduardo Vítor Rodrigues em Vila Nova de Gaia (Porto) e Rui Santos em Vila Real.
A CDU (PCP-PEV) terá de arranjar sucessores para os presidentes de Cuba (Beja), Arraiolos (Évora), Évora, Sobral de Monte Agraço (Lisboa), Avis e Monforte (Portalegre), Benavente (Santarém), Grândola, Palmela, Santiago do Cacém e Alcácer do Sal (Setúbal) e Silves, no Algarve, onde em 2013 Rosa Palma retirou a câmara ao PSD.
Vítor Proença, o comunista à frente de Alcácer do Sal desde 2013, tinha anteriormente cumprido o limite de mandatos como presidente da Câmara de Santiago do Cacém, enquanto Carlos Pinto de Sá, outro ‘dinossauro’ do PCP, não se pode recandidatar a Évora pelos mesmos motivos, mas já anteriormente tinha sido presidente de Montemor-o-Novo (Évora), entre 1993 e 2013.
O CDS-PP, que sozinho tem atualmente a presidência de seis câmaras municipais, vai ter de encontrar substitutos para três: António Loureiro e Santos, de Albergaria-a-Velha, e José Pinheiro e Silva, de Vale de Cambra, ambos no distrito de Aveiro, e Luís Silveira, presidente da Câmara de Velas, nos Açores.
Além de Rui Moreira, no Porto, há ainda outros quatro municípios que estão a ser dirigidos por movimentos independentes e que terão de mudar de presidente: Maria Teresa Belém, em Anadia (Aveiro), António Anselmo, autarca em Borba (Évora), Décio Natálio Pereira, na Calheta (Açores), e o madeirense Ricardo Nascimento, eleito pelo movimento Ribeira Brava em Primeiro, embora com o apoio do PSD.
Há distritos onde as mudanças de presidentes têm de ocorrer na maioria dos concelhos, com destaque para Castelo Branco, onde sete dos atuais 11 presidentes de câmara estão em fim de ciclo (Fernando Jorge, autarca de Oleiros em terceiro mandato, já tinha renunciado em maio de 2023 por motivos de saúde), e para a Madeira, onde ainda têm de sair seis do total de 10 autarcas (o presidente de Câmara de Lobos, Pedro Correia, estava no terceiro mandato e já saiu por ter sido eleito deputado).
Onze municípios mudam de presidente em Santarém (sete do PS, três do PSD e um do PCP-PEV), nove no Porto (cinco do PS, três do PSD e o independente Rui Moreira), oito em Viseu (cinco socialistas e três do PSD), sete em Portalegre (três do PS, dois do PSD e dois do PCP) e outros sete nos Açores (quatro do PS, um do PSD, um do CDS-PP e outro independente).
No distrito de Aveiro estão de saída seis autarcas (três do PSD, dois do CDS-PP e uma independente), em Coimbra outros seis (todos socialistas) e ainda mais meia dúzia em Lisboa (três do PS, dois do PSD e um da CDU).
Braga tem cinco autarcas em final de ciclo (quatro social-democratas e um socialista) e em Faro outros cinco (três socialistas, um do PSD e uma do PCP).
Com quatro autarcas no limite estão Évora (dois são do PCP, um do PS e o independente de Borba), Guarda (dois PSD e dois PS) e Setúbal (três do PCP-PEV e o socialista de Sines, Nuno Mascarenhas, envolvido na operação Influencer).
Em Viana do Castelo há três autarcas que não se podem recandidatar (dois socialistas e um social-democrata), em Vila Real outros três (dois do PS e um do PSD) e em Leiria está nesta situação apenas José Abreu (PS), de Figueiró dos Vinhos.
Bragança é o único distrito sem presidentes em final de ciclo, depois da saída dos três autarcas que tinha nestas condições.
Dos eleitos para um terceiro mandato em 2021, já saíram por diversos motivos pelo menos 28 presidentes, muitos dos quais na sequência das últimas eleições legislativas e europeias.
Em Aveiro foram eleitos deputados do PSD os então presidentes de Vagos, Santa Maria da Feira e Ovar, além dos autarcas de Valpaços e Vila Pouca de Aguiar (Vila Real) e de Moncorvo (Bragança).
Também são agora deputados os autarcas socialistas de Arruda dos Vinhos (Lisboa), de Vendas Novas (Évora) e da Nazaré (Leiria).
Quando estava no terceiro mandato na Câmara de Bragança, Hernâni Dias foi eleito deputado e é atualmente secretário de Estado do Poder Local, e Rui Ladeira, presidente de Vouzela, é agora secretário de Estado das Florestas.
Nas europeias, Hélder Sousa (PSD), Carla Tavares (PS) e Isilda Gomes (PS) foram eleitos eurodeputados e deixaram a presidência das câmaras de Mafra e Amadora (Lisboa) e Portimão, respetivamente.
Outros autarcas deixaram os cargos para dirigir outras entidades: Raul Almeida já tinha deixado a câmara social-democrata de Mira (Coimbra) para presidir ao Turismo do Centro, Nuno Canta (PS) deixou a Câmara do Montijo para dirigir a AMARSUL e mais recentemente, António Martins, que era presidente de Vimioso, suspendeu o seu terceiro mandato para dirigir a Segurança Social de Bragança.
terça-feira, 8 de julho de 2025
sábado, 5 de julho de 2025
Quando a Direita Deixa de Pedir Desculpa
Esta entrevista com Riccardo Marchi, recentemente divulgada no podcast Trocar uma Ideia, oferece-nos uma oportunidade rara: a de observar as direitas europeias – e em particular o fenómeno Chega – sob o olhar de um académico que não parte do princípio de que são uma aberração a ser extirpada da vida democrática, mas antes uma realidade política que deve ser estudada com rigor.
Marchi não surge como ideólogo ou militante, mas como um analista que acompanha há décadas a evolução das direitas radicais. Chegou a Portugal em 1998, quando falar de “extrema-direita” era quase uma excentricidade académica. Hoje, essa realidade é incontornável. Em Portugal, o Chega passou de partido marginal a segunda força política, e quem não entender as causas dessa ascensão, limitar-se-á a repetir chavões do jornalismo activista: “populismo”, “protesto”, “perigo para a democracia”.
A entrevista é clara ao distinguir duas coisas: a direita tradicional, domesticada pela hegemonia cultural da esquerda, e as novas direitas radicais, que rejeitam esse complexo de culpa. Estas novas direitas não se contentam em gerir o que a esquerda construiu: querem desmontar, reconstruir, recentrar a soberania, a identidade e a ordem.
O caso português tem, contudo, características próprias. O Chega mistura elementos do populismo latino com uma retórica anti-sistema semelhante à de outros partidos europeus, mas mantém uma identidade cultural marcadamente portuguesa: fado, Ultramar, Deus, Pátria e Família. É precisamente por isso que cresce – porque fala ao povo português na sua própria linguagem, e não na linguagem importada dos manuais do progressismo global.
Riccardo Marchi analisa ainda os efeitos da geopolítica: o posicionamento pró-americano das novas direitas, a resposta à guerra cultural e civilizacional movida desde certos sectores globalistas, a instrumentalização da imigração (tanto pela esquerda como pela direita), e o papel tóxico do jornalismo e das redes sociais no enviesamento do debate público.
Hoje, há em curso uma guerra sem armas entre dois modelos de sociedade: o da engenharia social imposta por cima, e o da identidade comunitária que resiste de baixo para cima. As novas direitas, como o Chega, representam esta segunda via. E não será com rótulos preguiçosos, mas com argumentos sérios, que se poderão confrontar ou compreender.
O fenómeno Chega não é apenas “voto de protesto”. É, cada vez mais, voto de adesão. Um voto que nasce do cansaço com o politicamente correcto, da repulsa pela arrogância das elites mediáticas, e da necessidade de restaurar um certo bom senso nacional.
A entrevista termina com temas que devem preocupar qualquer democrata verdadeiro: a cultura do cancelamento, a censura implícita do debate, a erosão da saúde mental dos jovens por algoritmos manipuladores, e a destruição da confiança na imprensa. Marchi propõe, como resposta, um jornalismo local, explicador, próximo das pessoas. Pode parecer pouco, mas talvez seja um princípio de solução para um sistema informativo hoje completamente colonizado por ideologia e interesses.
Mais do que nunca, é preciso estudar e compreender. Mas também é preciso escolher um lado. E a direita, quando deixa de pedir desculpa, torna-se finalmente audível.
terça-feira, 20 de maio de 2025
debate André Ventura (CHEGA) com Rodrigo Pratas (SIC)
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Exemplo simulado de entrevista provocatória a um porta-voz do CHEGA
Exemplo simulado de entrevista provocatória a um porta-voz do CHEGA, pex., com perguntas típicas de jornalista hostil e respostas estrategicamente preparadas, combinando assertividade, factos e inteligência retórica
-Neutralizar o ataque sem fugir da pergunta
- Reformular o tema com vantagem estratégica
-Comunicar com o eleitorado, não com o entrevistador
-Deixar uma frase-mensagem clara e replicável nas redes sociais
-Deixar uma frase-mensagem clara e replicável nas redes sociais
sexta-feira, 25 de abril de 2025
in memoriam Rodrigo Emilio
sexta-feira, 28 de março de 2025
Debate Nelma Serpa x André Ventura
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
lembram-se do Norberto?
eu sei que não se lembram por isso aqui vai:
Que a eleição Trump (por quem a extrema-direita, portuguesa e internacional suspiram) vai ser um problema bicudo para a Europa, depois de ser para os EUA, também, é certo e sabido. Eleger um troglodita desses, por quem Putin reza para ser eleito, é um desastre para o Mudo livre e democrático.
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