Afinal, havia outra. Havia duas Cartas de Intenções, uma destinada ao FMI, outra destinada a União Europeia e Banco Central Europeu. Ambas assinadas pelo ministro das Finanças de Sócrates, e pelo governador do Banco de Portugal. Nessas cartas, o governo Sócrates comprometia-se a fazer até Julho, uma «descida substancial» da Taxa Social Única (que baixa os custos de trabalho, não «baixa os salários», como Sócrates agora alucina).
Em 12 de Maio, no debate com José Sócrates, Francisco Louçã confrontou o ainda primeiro-ministro com essa Carta. Abalado como sempre fica quando confrontado com a realidade, Sócrates fez o que sempre faz: mentiu.
E é curioso que, nas horas e dias seguintes, jornalistas com demonstradas simpatias socialistas, como António José Teixeira ou Ricardo Costa, e outros, apenas distraídos, como Constança Cunha e Sá, se tenham dedicado a criticar Louçã, porque, coitado, não tinha percebido, não havia carta nenhuma, era um truque bloquista, fez confusão com o Acordo.
Mas Louçã não fizera confusão nenhuma. Foi apenas Sócrates que, mais uma vez, falsificou.
Para o futuro, fica a pergunta: quanto tempo levará a combater - além do estado de ruína, além das mentiras e falsificações, além dos gastos escondidos, além do amiguismo ruinoso, além do abaixamento moral e intelectual do debate político, além do desmantelamento dos cartéis governo/empresas amigas, além do saque do nosso dinheiro para os boys rosa - quanto tempo levará a erradicar esta mania dos jornalistas de, em vez de investigarem, correrem a ofender os mensageiros? por José Mendonça da Cruz no Corta Fitas