'Shame on us' (jornalistas)?
Ontem uma senhora, com ar de executiva, abordou-me na rua criticando-me por não ter falado no facto de Portugal se ter financiado a taxas de 2010. Uma referência às duas emissões de BT onde a República foi buscar dinheiro a juros muito aceitáveis.
19 Julho 2012 | 23:30
Camilo Lourenço - camilolourenco@gmail.com
"Como assim?", perguntei. Os jornais falam no assunto". A senhora contestou: "Estou a falar das manchetes. Vocês jornalistas só gostam das más notícias. Esta é uma boa notícia para o contribuinte, não é para o governo".
Quando lhe disse que soava a teoria da conspiração, interrompeu: "E o estudo da Reuters, que diz que somos melhores do que Espanha? Se fosse ao contrário era notícia de primeira página e abria telejornais".
Fui verificar. No "Público", "i", "Correio da Manhã" e "DN" de facto o assunto não vinha na 1a página. As TV tocaram ao de leve na matéria (com excepção da RTP1, com uma "peça" bem ilustrada). Já nos jornais especializados a história era diferente: o "Económico" dedicou-lhe um "Portugal paga juros mais baixos do que Espanha para vender dívida" e o "Negócios" avançou "Portugal financia-se no mercado com taxa inferior à da Troika". Menos mal... Mas o estudo da Reuters, de grande impacte nos mercados, só viria a merecer destaque na edição online do "Negócios". Vale a pena nós, jornalistas, meditarmos sobre o assunto (embora dando algum desconto - os jornais de ontem, por exemplo, nem tinham más notícias em manchete...). Até porque estas situações acontecem independentemente de quem está no Poder: entre uma má notícia e uma boa, foge a pena para a má notícia (salvo raras excepções). Porquê? Porque vende mais papel? Por receio que se diga "estão feitos com o governo"? Confesso que não sei.
24 horas depois, no mesmo jornal:
"Não é viável falar de sucesso" na emissão de dívida portuguesa
20 Julho 2012 | 16:58
Rita Faria - afaria@negocios.pt
Salvador Nobre da Veiga, consultor da XTB, faz o balanço da semana nos mercados.
"No caso de Portugal, não podemos fazer qualquer tipo de julgamento já que continuamos dentro do pacote de financiamento da troika", afirma Salvador Nobre da Veiga.
O consultor da XTB acrescenta que "não é viável falar de sucesso" no leilão de dívida desta semana, porque "estamos fora dos mercados internacionais em termos de dívida de longo prazo".
"Em 2013, quando fizermos a primeira tentativa de voltar aos mercados a longo prazo, na emissão de obrigações, é que podemos aferir qual o sentimento dos investidores em relação a Portugal", sublinha.
Pois: “…entre uma má notícia e uma boa, foge a pena para a má notícia (salvo raras excepções). Porquê? Porque vende mais papel? Por receio que se diga "estão feitos com o governo"? Confesso que não sei.”