sábado, 5 de julho de 2025

Quando a Direita Deixa de Pedir Desculpa

Esta entrevista com Riccardo Marchi, recentemente divulgada no podcast Trocar uma Ideia, oferece-nos uma oportunidade rara: a de observar as direitas europeias – e em particular o fenómeno Chega – sob o olhar de um académico que não parte do princípio de que são uma aberração a ser extirpada da vida democrática, mas antes uma realidade política que deve ser estudada com rigor.

Marchi não surge como ideólogo ou militante, mas como um analista que acompanha há décadas a evolução das direitas radicais. Chegou a Portugal em 1998, quando falar de “extrema-direita” era quase uma excentricidade académica. Hoje, essa realidade é incontornável. Em Portugal, o Chega passou de partido marginal a segunda força política, e quem não entender as causas dessa ascensão, limitar-se-á a repetir chavões do jornalismo activista: “populismo”, “protesto”, “perigo para a democracia”.

A entrevista é clara ao distinguir duas coisas: a direita tradicional, domesticada pela hegemonia cultural da esquerda, e as novas direitas radicais, que rejeitam esse complexo de culpa. Estas novas direitas não se contentam em gerir o que a esquerda construiu: querem desmontar, reconstruir, recentrar a soberania, a identidade e a ordem.
O caso português tem, contudo, características próprias. O Chega mistura elementos do populismo latino com uma retórica anti-sistema semelhante à de outros partidos europeus, mas mantém uma identidade cultural marcadamente portuguesa: fado, Ultramar, Deus, Pátria e Família. É precisamente por isso que cresce – porque fala ao povo português na sua própria linguagem, e não na linguagem importada dos manuais do progressismo global.

Riccardo Marchi analisa ainda os efeitos da geopolítica: o posicionamento pró-americano das novas direitas, a resposta à guerra cultural e civilizacional movida desde certos sectores globalistas, a instrumentalização da imigração (tanto pela esquerda como pela direita), e o papel tóxico do jornalismo e das redes sociais no enviesamento do debate público.

Hoje, há em curso uma guerra sem armas entre dois modelos de sociedade: o da engenharia social imposta por cima, e o da identidade comunitária que resiste de baixo para cima. As novas direitas, como o Chega, representam esta segunda via. E não será com rótulos preguiçosos, mas com argumentos sérios, que se poderão confrontar ou compreender.

O fenómeno Chega não é apenas “voto de protesto”. É, cada vez mais, voto de adesão. Um voto que nasce do cansaço com o politicamente correcto, da repulsa pela arrogância das elites mediáticas, e da necessidade de restaurar um certo bom senso nacional.

A entrevista termina com temas que devem preocupar qualquer democrata verdadeiro: a cultura do cancelamento, a censura implícita do debate, a erosão da saúde mental dos jovens por algoritmos manipuladores, e a destruição da confiança na imprensa. Marchi propõe, como resposta, um jornalismo local, explicador, próximo das pessoas. Pode parecer pouco, mas talvez seja um princípio de solução para um sistema informativo hoje completamente colonizado por ideologia e interesses.

Mais do que nunca, é preciso estudar e compreender. Mas também é preciso escolher um lado. E a direita, quando deixa de pedir desculpa, torna-se finalmente audível.