José Sócrates acha que vivemos no melhor de todos os mundos possíveis. E se parece que não vivemos no melhor dos mundos, ele sente a obrigação de provar que vivemos no melhor dos mundos possíveis, por ser essa a obrigação do político. O desemprego bate recordes? O País está sob vigilância internacional? Estamos a ser governados de fora? O FMI voltará? São cada vez menos os que estão dispostos a emprestar-nos dinheiro? Há cada vez mais famílias de classe média a baixar à miséria? A angústia geral supera a confiança no futuro? Somos obrigados a sacrifícios para curar a irresponsabilidade política de anos? Não faz mal, vivemos no melhor de todos os mundos possíveis. Há uma ligeira recuperação económica em 2010, portanto este mundo podia ser muito pior, dirá Sócrates (apontando a querida Grécia), queixando-se das excessivas atenções à estagnação prevista para 2011. Ele estranha que tão poucos atentem no facto, mais uma vez, indesmentível, de que vivemos no melhor de todos os mundos possíveis, mesmo que todas as desgraças e injustiças do mundo nos caiam na cabeça. "Não há efeito sem causa", dirá Sócrates, culpando a crise internacional e a especulação financeira. Mas descansai, bom povo: "Está demonstrado que as coisas não podem ser de outra forma: pois tudo tendo sido feito para um fim determinado, tudo se dirige para o melhor dos fins", citará Sócrates, recordando um filósofo que lhe convém, mas que morreu a acreditar nisso, enforcado no Terreiro do Paço, sobrevivendo porque o enforcaram mal e assim este é o melhor dos mundos possíveis. por Vìtor Matos em o Elevador da Bica