A Adriana e a Jacinta trabalharam duas décadas na fábrica que declarou falência vai para uma dúzia de anos.
Por estes dias receberam finalmente a indemnização. aquela que há uma dúzia de anos lhes devia ter sido paga o que, por ser excepção, originou notícia com direito a entrevista.
Há doze anos a Adriana tinha 40 e a Jacinta ia nos seus quarenta e três anos.
A Jacinta fazia “esquadros e réguas”, a Adriana geria a qualidade dos produtos.
Durante uma vintena de anos, do seu salário, descontaram uns onze por cento mensais para um imprevisto “desemprego” e para uma previsível “reforma”. Naqueles vinte anos terão descontado o equivalente a 26 salários.
Fechada a fábrica falida correram à Segurança Social que lhes garantiu a paga do subsídio de desemprego por cinco anos, uns 60 meses, e durante esses mil e oitocentos dias não conseguiram arranjar quem as quisesse para “controlar qualidade” ou fazer “réguas e esquadros”, “os únicos trabalhos que sabiam executar e, portanto, os únicos que aceitavam como emprego”.
Esgotado o “tempo legal” a receber o “subsídio” a Adriana e a Jacinta avançaram para a reforma antecipada porque, claro, continuavam sem conseguir quem as quisesse para fazer esquadros ou a controlar-lhes a feitura...
Isto é, depois receberam, durante 60 meses, como “subsídio de desemprego” um pouco mais de metade do vencimento que auferiam enquanto activas, obviamente sem descontos, agora, já lá vão 72 meses que, haja saúde, poderão atingir mais 500 a auferir uma pequena pensão de reforma equivalente ao “subsídio” que recebiam desempregadas. Claro que assim não Previdência que aguente!
Contido o mais Interessante foi observar a ingenuidade que lhes emergia da aura na entrevista que concederam a uma jovem jornalista e à respectiva emissora de TV.
Para as duas esforçadas operárias, o desemprego e a reforma, pequena, era-lhes “dada pelo estado” e não relacionável com os descontos que efectuaram !
Santa Ingenuidade! Nenhuma sabia que “o estado” somos nós. Elas incluídas!