O moralismo e o paternalismo estão a dar cabo do maior valor do mundo ocidental democrático: a liberdade individual.
Em nome da saúde, do bem comum, da civilização os cidadãos entregam ao Estado o poder de decidir, tal como nos regimes autoritários, o que comemos, como comemos, em que condições nos podemos deslocar, o que fumamos, como, quando e onde.
Não faltará muito para os cidadãos começarem a ser incitados a relatar às autoridades o que se passa na casa do vizinho, tal qual acontecia na velha União Soviética e, tal como lá, a delação justifica-se em nome da sociedade perfeita.
Portugal orgulha-se de estar na vanguarda da modernidade e, por isso, o mesmo Estado que é incapaz de gerir o nosso dinheiro - para dizer o mínimo, porque, na realidade, o que faz é espatifar a riqueza nacional em negócios ruinosos como as PPP -, tem o descaramento de querer impor regras de higiene tabágica no carro de cada um. Num país em pré-bancarrota, por culpa exclusiva da inimputabilidade de um Estado irresponsável, só nos faltava agora estar a pagar a polícias para andarem a ver quem fuma e quem não fuma dentro do carro.
O ministro que avançou com tal proposta devia pensar bem onde se coloca politicamente porque acho que nem Francisco Louça seria capaz de uma proposta tão moderna.
Já agora, resta-me desejar que esta proposta não passe. Caso contrário, tenho que voltar a fumar.Raquel Abecasis