Como se o país não tivesse assuntos mais prementes com que se preocupar, são figuras de topo, lóbis e redes de tráfico de influências que concitam as atenções públicas.
O jornalismo, com o caso Relvas, mostra a sua importância e a sua fragilidade.
Com ele e com profissionais que não se deixam intimidar na sua função de escrutinar os poderes, um pouco do mundo das sombras assoma à luz do dia. Ao mesmo tempo, pressente-se uma promiscuidade entre o jornalismo e a política (e presumivelmente outros campos) que não é tranquilizadora. Resta saber se os jornalistas que se destacam pela seriedade, ética e profissionalismo – que certamente os há – são a faceta visível de uma consciência profissional que não morreu e que promete vir a dar frutos ou se são, antes, o “pequeno resto”, “os últimos moicanos” do dito quarto poder.
Mais preocupante é o que se vai descobrindo relativamente à sordidez dos jogos e movimentações já não individuais, mas entre instituições. É bom que se saiba que grupos mediáticos importantes do nosso país aparecem envolvidos nas teias e canais de tráfico entre os campos da política, dos negócios, de serviços secretos e de sociedades sigilosas. Num quadro destes que esperar do anunciado processo de privatização de parte do serviço público de rádio e televisão? Que esperar de jornais, rádios e televisões que são alvo ou estão reféns desses nebulosos interesses?
É cada vez mais urgente tornar o universo dos média – a quem cabe representar os diferentes campos sociais – muito mais transparente do que tem sido. Quem possui o quê; quem quer comprar e quem quer vender; que interesses representam os agentes que protagonizam as operações de que se vai sabendo de forma fragmentária e muito incompleta.
Se o jornalismo não virar as atenções para os bastidores do campo mediático, perdemos todos, incluindo o próprio jornalismo.
Se o jornalismo não virar as atenções para os bastidores do campo mediático, perdemos todos, incluindo o próprio jornalismo.
Grave é os média fulanizarem e deterem-se com esta ou aquela árvore, perdendo a perspectiva da floresta. Trata-se aqui de matéria que dificilmente alguém mais tratará, se os jornalistas (directores, editores incluídos) não meterem os pés ao caminho. É ver os cuidados e as pinças com que vários e importantes partidos lidam publicamente com estes dossiês.
Esta seria (será? é?), pois, a hora do jornalismo. por Manuel Pinto Professor da Universidade do Minho no PAGINA 1