UM
Antevisão 2007 Cavaco Silva exige resultados em 2007
Paula Sá
DN Terça, 2 de Janeiro de 2007
"Crucial", foi a palavra escolhida pelo Presidente da República para caracterizar o ano de 2007 para Portugal, na sua mensagem de Ano Novo. Sobretudo porque quer que este seja o tempo de ultrapassar a fase de fraco crescimento económico e de acertar o passo com os nossos parceiros europeus. Cavaco Silva exigiu ao Governo e aos seus parceiros sociais "progressos claros" em três áreas vitais: desenvolvimento económico, educação e justiça.Sem esquecer a palavra "esperança, na dose de optimismo adequada à época, o chefe do Estado diluiu os esperados elogios ao Executivo de José Sócrates na exigência de resultados concretos. Num ano em que Portugal poderá "afirmar o prestígio" ao assumir a presidência do Conselho da União Europeia, no segundo semestre de 2007. O desenvolvimento económico, disse, é condição necessária à criação de emprego e de mais justiça social. A recuperação do investimento e o reforço do reequilibro das finanças públicas são os seus factores decisivos. "Havendo, no entanto, que actuar por forma a preservar a coesão social e a solidariedade para com os que precisam." Um aviso de Cavaco ao Governo, tal como o de que "o desenvolvimento exige que o Estado seja mais eficiente no uso dos seus recursos e que actue com rapidez e transparência".E na linha do que têm sido todos os seus discursos, o Presidente da República apela à partilha de responsabilidades da sociedade em geral e ao envolvimento dos parceiros sociais e económicos nos grandes desafios nacionais. É neste sentido que considerou que cabe aos empresários serem agentes de mudança, aumentando a produtividade, investindo mais e, sobretudo, investindo melhor, como uma aposta decisiva na inovação e na qualidade."O tempo urge", sustentou Cavaco na obtenção dessa excelência no sistema de ensino, a segunda prioridade de 2007. O combate sem tréguas ao insucesso e abandono escolar têm que ter sinais positivos já este ano. Nesta tarefa quer ver empenhados professores, pais e alunos. Só no campo da justiça, o inquilino de Belém reconheceu que em 2006 se reduziu a "crispação" que marcava o sector e lembrou que se conseguiu - depois do seu apelo feito nas comemorações do 25 de Abril -, um entendimento político alargado [o chamado "pacto da Justiça", entre PS e PSD] com vista à credibilização e ao reforço da confiança no sistema judicial. "Dos protagonistas deste sector espera-se um contributo activo para a eficiência do sistema de justiça."Rematados os desafios, a justificação para a "cooperação estratégica" com o Governo, tão patente na entrevista que concedeu recentemente à SIC: "É fundamental que haja um clima de confiança e estabilidade que favoreça o desenvolvimento económico e social, credibilize as instituições e permita a realização de reformas inadiáveis." O PR, sublinha, "tem procurado assegurar as condições políticas para que Portugal siga um caminho de futuro, no respeito pelas opções democráticas dos cidadãos".Os excluídos, os emigrantes e os militares destacados no estrangeiro mereceram ainda a solidariedade das suas últimas palavras de celebração do Ano Novo.
DOIS
Harmonia entre Sócrates e Cavaco vai manter-se?
Pedro Correia
Antevisão 2007 Cavaco Silva exige resultados em 2007
Paula Sá
DN Terça, 2 de Janeiro de 2007
"Crucial", foi a palavra escolhida pelo Presidente da República para caracterizar o ano de 2007 para Portugal, na sua mensagem de Ano Novo. Sobretudo porque quer que este seja o tempo de ultrapassar a fase de fraco crescimento económico e de acertar o passo com os nossos parceiros europeus. Cavaco Silva exigiu ao Governo e aos seus parceiros sociais "progressos claros" em três áreas vitais: desenvolvimento económico, educação e justiça.Sem esquecer a palavra "esperança, na dose de optimismo adequada à época, o chefe do Estado diluiu os esperados elogios ao Executivo de José Sócrates na exigência de resultados concretos. Num ano em que Portugal poderá "afirmar o prestígio" ao assumir a presidência do Conselho da União Europeia, no segundo semestre de 2007. O desenvolvimento económico, disse, é condição necessária à criação de emprego e de mais justiça social. A recuperação do investimento e o reforço do reequilibro das finanças públicas são os seus factores decisivos. "Havendo, no entanto, que actuar por forma a preservar a coesão social e a solidariedade para com os que precisam." Um aviso de Cavaco ao Governo, tal como o de que "o desenvolvimento exige que o Estado seja mais eficiente no uso dos seus recursos e que actue com rapidez e transparência".E na linha do que têm sido todos os seus discursos, o Presidente da República apela à partilha de responsabilidades da sociedade em geral e ao envolvimento dos parceiros sociais e económicos nos grandes desafios nacionais. É neste sentido que considerou que cabe aos empresários serem agentes de mudança, aumentando a produtividade, investindo mais e, sobretudo, investindo melhor, como uma aposta decisiva na inovação e na qualidade."O tempo urge", sustentou Cavaco na obtenção dessa excelência no sistema de ensino, a segunda prioridade de 2007. O combate sem tréguas ao insucesso e abandono escolar têm que ter sinais positivos já este ano. Nesta tarefa quer ver empenhados professores, pais e alunos. Só no campo da justiça, o inquilino de Belém reconheceu que em 2006 se reduziu a "crispação" que marcava o sector e lembrou que se conseguiu - depois do seu apelo feito nas comemorações do 25 de Abril -, um entendimento político alargado [o chamado "pacto da Justiça", entre PS e PSD] com vista à credibilização e ao reforço da confiança no sistema judicial. "Dos protagonistas deste sector espera-se um contributo activo para a eficiência do sistema de justiça."Rematados os desafios, a justificação para a "cooperação estratégica" com o Governo, tão patente na entrevista que concedeu recentemente à SIC: "É fundamental que haja um clima de confiança e estabilidade que favoreça o desenvolvimento económico e social, credibilize as instituições e permita a realização de reformas inadiáveis." O PR, sublinha, "tem procurado assegurar as condições políticas para que Portugal siga um caminho de futuro, no respeito pelas opções democráticas dos cidadãos".Os excluídos, os emigrantes e os militares destacados no estrangeiro mereceram ainda a solidariedade das suas últimas palavras de celebração do Ano Novo.
DOIS
Harmonia entre Sócrates e Cavaco vai manter-se?
Pedro Correia
DN Terça, 2 de Janeiro de 2007
Cavaco Silva deve manter em 2007, no Palácio de Belém, o seu tranquilo magistério tutelar do sistema político português. E não custa vaticinar que possa dar novas alegrias ao Governo socialista, na sequência do primeiro ano de feliz coabitação com São Bento.
Isto sucede, desde logo, por uma questão de estilo: Cavaco continuará a fazer questão, durante parte essencial deste seu mandato, em marcar distâncias e acentuar diferenças com Mário Soares, o homem que certamente mais horas de sono lhe roubou quando ele próprio comandava os destinos do Governo, já lá vai mais de uma década. Mas também por uma questão de substância: o inquilino de Belém acredita firmemente nas virtudes da "cooperação estratégica" com uma personalidade como José Sócrates, que de algum modo fala a mesma linguagem. Um veio de Boliqueime, outro é da Covilhã. Pertencem a gerações diferentes, mas partilham a mesma desconfiança atávica perante uma certa classe dirigente lisboeta e gostam ambos de exibir pulso firme.
Cavaco não esconde a admiração pelo impulso reformista que o seu olhar treinado detectou no primeiro-ministro. Este elogio a Sócrates, na recente entrevista televisiva concedida à SIC, fez ranger os dentes a uma certa direita, pouco ginasticada nos desafios da oposição. De qualquer forma, Cavaco promete estar atento à governação. Na mensagem de Ano Novo, o Presidente deixou claro que espera resultados da acção do Executivo já em 2007.
A verdade é que a pose de Cavaco tem seduzido a esquerda. Bloquistas e comunistas, como se tivessem esquecido o que disseram dele durante a campanha presidencial de 2006, apelam agora - num suave tom implorativo - ao veto de Belém à lei das finanças locais, já confirmada por uma sólida maioria parlamentar e pelo Tribunal Constitucional. Mas ninguém parece mais derretido do que os socialistas. Miguel Coelho, líder do PS/Lisboa, deu o tom em entrevista ao Expresso, admitindo apoiar uma recandidatura de Cavaco. Um desvelo digno de fazer ciúmes ao próprio PSD...
A verdade é que Cavaco não perde uma oportunidade de piscar o olho à esquerda em incessantes operações de charme. A primeira dama, Maria Cavaco Silva, chegou a confessar à revista Visão que sempre foi "de centro-esquerda".
Mas a melhor garantia antecipada que Sócrates tem de que não sofrerá curtos-circuitos ditados por Belém em 2007 é a presidência da União Europeia, confiada a Portugal no segundo semestre. Um período que exigirá uma indispensável sintonia entre todos os órgãos de soberania sediados em Lisboa. À atenção dos euroburocratas de Bruxelas.
Este imperativo nacional, aliado à notória falta de entusiasmo de Cavaco perante as manobras da oposição à direita de Sócrates, constitui um evidente seguro de vida da actual maioria socialista. É certo que até a legislatura se esgotar, em 2009, muita água correrá debaixo das pontes e a "cooperação estratégica" poderá dissolver-se em nome de outros interesses. Resta saber se Marques Mendes não terá mais a recear de Belém do que Sócrates quando a boa moeda decidir expulsar a má...
Cavaco Silva deve manter em 2007, no Palácio de Belém, o seu tranquilo magistério tutelar do sistema político português. E não custa vaticinar que possa dar novas alegrias ao Governo socialista, na sequência do primeiro ano de feliz coabitação com São Bento.
Isto sucede, desde logo, por uma questão de estilo: Cavaco continuará a fazer questão, durante parte essencial deste seu mandato, em marcar distâncias e acentuar diferenças com Mário Soares, o homem que certamente mais horas de sono lhe roubou quando ele próprio comandava os destinos do Governo, já lá vai mais de uma década. Mas também por uma questão de substância: o inquilino de Belém acredita firmemente nas virtudes da "cooperação estratégica" com uma personalidade como José Sócrates, que de algum modo fala a mesma linguagem. Um veio de Boliqueime, outro é da Covilhã. Pertencem a gerações diferentes, mas partilham a mesma desconfiança atávica perante uma certa classe dirigente lisboeta e gostam ambos de exibir pulso firme.
Cavaco não esconde a admiração pelo impulso reformista que o seu olhar treinado detectou no primeiro-ministro. Este elogio a Sócrates, na recente entrevista televisiva concedida à SIC, fez ranger os dentes a uma certa direita, pouco ginasticada nos desafios da oposição. De qualquer forma, Cavaco promete estar atento à governação. Na mensagem de Ano Novo, o Presidente deixou claro que espera resultados da acção do Executivo já em 2007.
A verdade é que a pose de Cavaco tem seduzido a esquerda. Bloquistas e comunistas, como se tivessem esquecido o que disseram dele durante a campanha presidencial de 2006, apelam agora - num suave tom implorativo - ao veto de Belém à lei das finanças locais, já confirmada por uma sólida maioria parlamentar e pelo Tribunal Constitucional. Mas ninguém parece mais derretido do que os socialistas. Miguel Coelho, líder do PS/Lisboa, deu o tom em entrevista ao Expresso, admitindo apoiar uma recandidatura de Cavaco. Um desvelo digno de fazer ciúmes ao próprio PSD...
A verdade é que Cavaco não perde uma oportunidade de piscar o olho à esquerda em incessantes operações de charme. A primeira dama, Maria Cavaco Silva, chegou a confessar à revista Visão que sempre foi "de centro-esquerda".
Mas a melhor garantia antecipada que Sócrates tem de que não sofrerá curtos-circuitos ditados por Belém em 2007 é a presidência da União Europeia, confiada a Portugal no segundo semestre. Um período que exigirá uma indispensável sintonia entre todos os órgãos de soberania sediados em Lisboa. À atenção dos euroburocratas de Bruxelas.
Este imperativo nacional, aliado à notória falta de entusiasmo de Cavaco perante as manobras da oposição à direita de Sócrates, constitui um evidente seguro de vida da actual maioria socialista. É certo que até a legislatura se esgotar, em 2009, muita água correrá debaixo das pontes e a "cooperação estratégica" poderá dissolver-se em nome de outros interesses. Resta saber se Marques Mendes não terá mais a recear de Belém do que Sócrates quando a boa moeda decidir expulsar a má...