quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os meninos de Goebbels


Não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo efeito” – Goebbels
O nosso Primeiro-ministro e a sua máquina de corporativos bebeu os ensinamentos da propaganda em Goebbels. Cedo perceberam que a sua comunicação deveria ter como ponto de partida um profundo conhecimento do indivíduo e das massas de molde a conseguir uma boa manipulação de ambas.
Eles conhecem bem os desejos do português médio e as suas necessidades. Depois perceberam que hoje os media são cada vez menos livres na medida e proporção da sua dependência empresarial do mercado publicitário. No país do respeitinho e no qual empresas como a PT (TMN/Sapo/PT), a EDP, a Galp ou CGD , só para citar alguns exemplos, são gigantes publicitários à nossa medida e grandeza, tudo se torna mais simples e eficaz. Acresce uma equipa de assessores e consultores bons e disponíveis para o papel de petit Maquiavel de serviço.
A forma como desde o início e sobretudo desde 2008, o Primeiro-ministro fantasiou os números, baralhou e voltou a dar, mentiu e omitiu sem qualquer pudor não poderia resultar se não existisse uma máquina bem montada e melhor oleada. Foi assim que modelou os seus meios ao serviço da sua vontade e do seu desejo de manutenção do poder.
Curiosamente, é na direita que este projecto comunicacional encontrou alguns dos seus mais silenciosos e dedicados seguidores, cuja Banca e boa parte das grandes empresas são disso bom exemplo. A última embaixada dos bancários (não confundir com Banqueiros) à sede do PSD para pressionar Passos Coelho a aprovar o Orçamento de Estado para 2011 ficará nos anais da história como a cereja no topo do bolo dos corporativos.
Hoje, reconheço, não foi só Passos Coelho e a sua equipa que foram ingénuos. Fomos todos. Ninguém queria acreditar ser possível, em pleno séc. XXI, um grupo conseguir manipular desta forma tão eficaz a comunicação. Neste mundo repleto de informação, com milhões de membros nas redes sociais, com a independência e até uma certa libertinagem na blogosfera, seria impensável um projecto desta envergadura e alcance ter sucesso.
Agora a máquina está concentrada num só tema: a necessidade imperiosa de aprovar o orçamento, seja ele mau, péssimo ou trágico. Não importa, apenas interessa aprovar para manter o poder. Mesmo asfixiando a classe média, esganando os pobres e protegendo os mais ricos dos ricos (sinónimo de donos dos bancos, grandes empresas das parcerias público-privadas e detentores directa e indirectamente dos instrumentos de poder comunicacional).
E quem mais defende e se bate pela aprovação do OE2011 por parte do PSD? O PS e o seu eleitorado? Não. Um certo PSD. Estranho? Não, compreensível. Uns por pertenceram ao grupo dos dedicados e silenciosos seguidores. Outros por meros interesses político-estratégicos pessoais de curto/médio-prazo. Alguns por acreditarem, piamente, que é a melhor forma de derrotar o homem daqui a uns meses.
Sinceramente, não sei se me espante mais com o calculismo dos primeiros, com o egoísmo dos segundos ou com a ingenuidade dos terceiros. Num país sério e decente o orçamento seria chumbado, o FMI chamado e os executores da morte deste país metidos na cadeia.
Infelizmente, não será assim, para mal dos nossos pecados…

Uma post brilhantissimo de Fernando Moreira de Sá em Os Cafeínicos