adeus Sócrates
José Sócrates está de abalada. Vai para Paris. Já pediu licença sem vencimento na Covilhã . No momento da despedida imaginámos uma entrevista com o ex-primeiro-ministro socialista.
- Senhor engenheiro, confirma que vai estudar Filosofia para Paris?
- Não confirmo nem desminto.
- Mas o embaixador Seixas da Costa já lhe arranjou um apartamento?
- Não confirmo nem desminto, mas parece-me que anda muito bem informado sobre a minha vida.
- Tem sido uma vida difícil?
- Depende do ponto de vista. Como governante foi. Como cidadão, tirando alguns apupos da extrema-esquerda e uns assobios dos contratados pelo PCP, tenho tido uma vida agradável...
- Mesmo com as namoradas?
- Bem, não vá por aí. Realmente, tem havido algumas ingratidões e especialmente quando têm a mania que são jornalistas de topo e não passam de umas aprendizes...
- Refere-se à última?
- Não sei se você sabe o que eu sei sobre saber-se quem foi a última.
- O senhor engenheiro sentia no governo que tinha muitos amigos?
- Sentia.
- E sente?
- Nem pensar. A maioria foi uma falsidade. Alguns dos que mais me bajulavam foram os primeiros a desaparecer...
- Mas nem lhe telefonam?
- Olhe, sei de alguns que até retiraram o meu número da lista privada dos números de telefones.
- Enganado?
- Desiludido... desiludido com tanta ingratidão e sobre alguns o choque até é emocional.
- Por quê, emocional?
- Ora, porque os vi inscreverem-se no PS sem casa, sem carro, sem fatos, sem casa no Algarve, sem empregadas domésticas, sem saberem onde era a Europa e foram esses os que mais... bem, deixemos isso.
- Refere-se ao que Mário Soares salientou recentemente? Ao facto de alguns se terem abotoado com muito dinheiro?
- Não quero entrar por aí senão muito tinha para contar. Efectivamente... você veja, realmente, das duas uma, ou estavam para servir o país e o partido ou estavam ao meu lado para ganhar muito dinheiro e terem muitas mulheres...
- Mulheres?
- Quero dizer, muitas secretárias nos gabinetes e essas foram o antro da má-língua...
- Contra si?
- Sim, contra mim e com os maiores despautérios na boca dizendo que eu era isto, era aquilo, era aqueloutro...
- E era?
- Está a brincar comigo ou continuamos uma entrevista séria?
- O senhor engenheiro teve ou não teve boas relações com o Presidente da República?
- Não tive. Os sorrisos eram uma hipocrisia. Como é que queria que tivesse uma boa relação se durante todo o tempo foi ele que criou a minha queda?!
- E aleijou-se?
- Muito. Posso dizer-lhe que estou absolutamente convencido que não voltarei a endireitar-me... a queda deixou-me com fracturas irrecuperáveis, penso eu.
- O senhor engenheiro, afinal, é ou não engenheiro?
- Depende de como se quiser interpretar?
- ...?
- Sim, não fique admirado. Há engenheiros da velha guarda e há outros como eu de uma era moderna, cujos cursos não foram obrigatoriamente obtidos no Instituto Superior Técnico...
- Portanto, tem um diploma?
- Quero dizer, ter tenho e passado por uma universidade de prestígio.
- Mas essa universidade encerrou...
- Espere! Encerrou porque foi alvo de uma cabala... mas, adiante, não falemos de coisas encerradas!
- O senhor engenheiro vai ter namorada em Paris? Poderá vir a ser uma filósofa para facilitar a aprendizagem?
- Lá está você com brincadeiras. Eu em Paris limitar-me-ei a ser francês.
- Como? Vai renunciar à nacionalidade portuguesa?
- Calma, calma! Não vá escrever isso porque eu nego, eu nego, continuarei a ser português, só que à moda francesa.
- A servir à mesa ou a limpar escadas?
- Essa é uma ideia muito retrógrada do emigrante português, desculpe mas tenho a maior consideração pelos emigrantes...
- Nunca mais vai voltar? Já se fala que poderá um dia candidatar-se a Presidente da República, está no seu horizonte?
- Bem, se o António José Seguro se candidatar... ah!... nesse caso eu volto!
por joão e. severino no Jornal do Pau.
o humor nacional deve ser uma das poucas coisas que se mantém intacta, AAA+++, como agora se classifica!