Em Espanha, entre 2006 e
2011 ocorreu uma inversão significativa na estrutura das despesas das famílias
segundo a idade do principal angariador de rendimento. As
famílias em que este têm entre 16 e 29 anos viram a despesa média descer de
11814 € por ano para 10345 €. As famílias em que este têm 65 e mais anos
tiveram uma subida de 10157 € para 12093 € por ano.
Com estes movimentos, as
famílias sustentadas por idosos passaram a ter um nível de despesa superior às
famílias sustentadas por pessoas no primeiro terço da vida activa.
Provavelmente está a ocorrer uma redistribuição geracional de rendimento
inversa da de antigamente. Agora, transferindo de avós para filhos e netos, em
vez de filhos adultos para, simultaneamente, os seus pais e os seus filhos.
São sinais de um novo
tempo, em que o Estado social centrado nos idosos, incapaz de lidar com as
dificuldades do funcionamento do mercado de trabalho e moralmente enviesado
contra a protecção de pessoas em idade activa, deixa à família alargada o papel
de amortecer os efeitos da crise e, em particular, do desemprego. Mas é um movimento
pouco sustentável e pouco equitativo. É pouco equitativo porque as famílias com
mais recursos se protegerão melhor, agravando a desigualdade por lhes ser
entregue a função redistribuidora. É pouco sustentável porque, destroçadas as
carreiras contributivas dos jovens de hoje por uma inserção fragmentária do
mercado de trabalho, chegará o tempo em que, com os actuais mecanismos, os
idosos futuros deixarão de poder assegurar esta redistribuição.
Oxalá ninguém se confunda
quanto a que este amortecedor da crise é só um amortecedor. E, se assim é em
espanha, apesar de eu não ter dados para Portugal, é bem provável que não
esteja a ser diferente entre nós. por Paulo
Pedroso no Banco
Corrido