sábado, 3 de novembro de 2012

A nossa "troika" refundada


O Governo PSD/CDS está obrigado a cumprir o programa de ajustamento negociado pelo anterior Governo PS que, no íntimo, já sabia que não iria executá-lo.

Tal bastaria para que a "troika" dos 3 partidos funcionasse no essencial, apesar da coreografia inerente a ser governo ou estar na oposição.

Se, no início, tudo pareceu andar bem, a deterioração veio-se acentuando.

Por um lado, no respeito pela memória. Não era o então PM Sócrates que, há pouco mais de um ano, ainda falava em TGV, Aeroportos, auto-estradas e outras megalomanias de betão? Ou que, em anteriores vésperas eleitorais, aumentou os funcionários em 2,9% com a inflação negativa e o défice a atingir os dois dígitos? Ou que, entre 2005 e 2010, duplicou o valor da dívida pública?

Mas, o Governo também tem contribuído pelo estilo, método e medidas para pulverizar o capital da lusa "troika". Tudo começou na abortada TSU e continuou em medidas pré, durante e pós-orçamentais anunciadas fragmentariamente. Assim foram oferecidos argumentos ao PS para o distanciamento e desresponsabilização. E assim se vêm branqueando as causas e demonizando as consequências da crise. Ao mesmo tempo enfraqueceu-se a UGT e lançou-se o protesto sindical nos braços da CGTP.

Face à severa situação do País, o certo é que não se pode desbaratar uma base alargada de entendimento político e social.

Por isso, apreciei os apelos dos líderes da maioria para uma maior articulação com o PS na reforma das reformas - a redução estrutural da despesa pública - e no benefício que pode advir de uma maior abertura dos credores.

Mas, por favor, não percam tempo com a semântica da "refundação". Com o País em estado de necessidade, dispensam-se jogos florais na discussão parlamentar do OE e pede-se mais responsabilidade a todos. António Bagão Felix no Jornal de Negócios aos 01 Novembro 2012 | 23:30