O Governo PSD/CDS está obrigado a
cumprir o programa de ajustamento negociado pelo anterior Governo PS que, no
íntimo, já sabia que não iria executá-lo.
Tal bastaria para que a
"troika" dos 3 partidos funcionasse no essencial, apesar da
coreografia inerente a ser governo ou estar na oposição.
Se, no início, tudo pareceu andar
bem, a deterioração veio-se acentuando.
Por um lado, no respeito pela
memória. Não era o então PM Sócrates que, há pouco mais de um ano, ainda falava
em TGV, Aeroportos, auto-estradas e outras megalomanias de betão? Ou que, em
anteriores vésperas eleitorais, aumentou os funcionários em 2,9% com a inflação
negativa e o défice a atingir os dois dígitos? Ou que, entre 2005 e 2010,
duplicou o valor da dívida pública?
Mas, o Governo também tem
contribuído pelo estilo, método e medidas para pulverizar o capital da lusa
"troika". Tudo começou na abortada TSU e
continuou em medidas pré, durante e pós-orçamentais anunciadas
fragmentariamente. Assim foram oferecidos argumentos ao PS para o
distanciamento e desresponsabilização. E assim se vêm branqueando as causas e
demonizando as consequências da crise. Ao mesmo tempo enfraqueceu-se a UGT e
lançou-se o protesto sindical nos braços da CGTP.
Face à severa situação do País, o
certo é que não se pode desbaratar uma base alargada de entendimento político e
social.
Por isso, apreciei os apelos dos
líderes da maioria para uma maior articulação com o PS na reforma das reformas
- a redução estrutural da despesa pública - e no benefício que pode advir de
uma maior abertura dos credores.
Mas, por favor, não percam tempo
com a semântica da "refundação". Com o País em estado de necessidade,
dispensam-se jogos florais na discussão parlamentar do OE e pede-se mais
responsabilidade a todos. António Bagão Felix no Jornal de Negócios aos 01 Novembro 2012 | 23:30