segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

canalizador



Os portugueses não têm hábitos de estudo. É uma característica reservada à elite, não ao povo. A elite estuda e medita e proclama o saber ao povo. A transmissão do saber é feita de forma oral, não de forma escrita. E é feita em género de proclamação, não de diálogo. ...
As opiniões do português típico reflectem geralmente as opiniões faladas de alguém próximo, a quem ele reconhece autoridade, que pode ser o vizinho do lado, nunca são o fruto da leitura e da meditação, daquilo que noutros países se chama investigação. Estudar não é com ele. Deixou sempre isso para a elite, os especialistas, que foram tradicionalmente os padres. O clero estudava o Livro e comunicava-o oralmente aos outros, que aceitavam passivamente a sua autoridade.
Os debates são muito engraçados em Portugal e desvalorizam sempre quem estudou. Recentemente, no programa Prós-e-Contras discutia-se a situação económica da europa e o euro. Estavam vários economistas, jornalistas e políticos. Para comentar o tema a partir da Grécia estava o treinador de futebol Fernando Santos. A mensagem colateral era clara: "Para comentar essas questões da economia e do euro, até um treinador de futebol é capaz. Portanto, eu, que sou canalizador, também sou capaz". A falta de julgamento é total. A depreciação dos economistas presentes não podia ser maior. Publicada por Pedro Arroja em
portugal contemporâneo