terça-feira, 2 de novembro de 2010

E agora, Brasil?


O Brasil vive hoje em euforia política permanente. Os sucessos de Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva levaram o Brasil a um êxtase que contrasta com uma campanha decepcionante para um país que garantiu, a pulso, um lugar cimeiro na política internacional. Após uma morna primeira volta - o excelente desempenho de Marina Silva diluíra a bipolarização -, a agitação marcou a segunda ronda. Entrou-se no campo inevitável do arremesso eleitoral centrado no aborto, o que define a força das restantes propostas e a ausência de diferenças substanciais.
Serra passou a agressivo, e Dilma mostrou ginga política suficiente para não derrapar nas intenções de voto. Era na gestão deste confronto que os eleitores oscilariam da primeira para a segunda volta. Não o fizeram.
Desconfiaram do novo Serra e apreciaram o envolvimento de Lula que ajudou a cimentar a base eleitoral de Dilma, cativou a de Marina e cerrou fileiras contra Serra. Abster não era, por isso, uma hipótese.
O factor Lula levanta uma questão de saúde democrática: deve um presidente em exercício participar como candidato a umas eleições para as quais está constitucionalmente impedido? Dilma sai inevitavelmente diminuída e eleva a fasquia da afirmação e do desempenho no cargo a um patamar dificilmente gerível.
Por fim, a política externa, um tema ausente para um país redimensionado no exterior e com ambições nos debates das alterações climáticas, energia, comércio externo ou segurança. Teremos um Brasil ideológico (ao lado da Venezuela, Irão, Cuba), um Brasil pragmático (com China, Rússia, Índia), ou um Brasil ambicioso (juntando a estes os Estados Unidos e Europa)? Provavelmente o último. Estas eleições foram, porém, um completo anticlímax. Os brasileiros mereciam mais.
Bernardo Pires de Lima no DN