segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Constâncio revisitado


O lugar de governador de um Banco Central é um lugar fundamentalmente técnico e institucional.
Não político. Por isso, um certo exercício recordatório de teses substantivas que se exprimam no exercício dessas relevantes funções é, também, um adequado escrutínio do seu valor, oportunidade e coerência.
Em 16 de Maio de 2008, o então Governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio deu uma entrevista ao Financial Times. Um jornal de excelência, respeitável e respeitado. Uma entrevista, por certo, bem pensada e articulada. Transcrevem-se, em seguida, algumas das suas principais afirmações:
"A divergência (das economias) dentro dos quinze países da união monetária europeia reflecte um normal processo de ajustamento e não constitui um problema para as políticas da zona euro".
"Não acredito que venha a haver uma recessão na Europa".
"Os ciclos económicos têm-se tornado mais sincronizados e as diferenças nas taxas de crescimento foram menos agudas do que entre regiões dos Estados Unidos. Por isso, não são um problema para a zona euro vista como um todo".
"Não devemos enfatizar em excesso a situação das contas públicas dentro de uma união monetária porque há fases de ajustamento e há mecanismos de auto-correcção. Ninguém se preocupa demasiado acerca do défice do Mississípi".
"Tenho a ideia de que os processos de ajustamento não serão tão significativos e dramáticos como algumas pessoas pensam".
...
Estas visionárias e premonitórias declarações valem por si. Depois de um percurso que cada qual julgará quanto à supervisão financeira e de um não despiciendo cacharolete de obséquios governamentais e de rábulas orçamentais, o então incensado Governador deve ter tido, com aquela entrevista ao FT, o definitivo passaporte para Vice-presidente do Banco Central Europeu. Com o pelouro da supervisão.
Assim vai a União Europeia. Assim foi Vítor Constâncio.
por António Bagão Félix no Económico