segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Quem será, no futuro, o líder da direita?

Podem os políticos beijar peixeiras e dar palmadas nas costas a feirantes- e desinfectar rosto e mãos no passo seguinte... -; podem os homens do marketing efabular estratégias geniais e os politólogos - a profissão da moda... - esmiuçar os sufrágios; podem as sondagens prognosticar resultados antes do fim do jogo ou os Gato Fedorento branquear ou escurecer personalidades a eito, que o povo arranja sempre a solução genial em que ninguém tinha pensado. Reparem na ironia a esta hora, José Sócrates agradece o facto de poder ter, no máximo, 98 deputados e não 100. Com este resultado, o eleitorado libertou-o do que mais temia: ficar «refém» de Francisco Louça. Com efeito, se o PS obtivesse 100 deputados, mais os 16 do Bloco, seria, interna e externamente, pressionado a tentar um improvável acordo com o líder do BE, para alcançar a maioria e qualquer entendimento com o CDS seria considerado uma heresia política Assim, tem um álibi: embora mantenha a possibilidade de convergências à esquerda - com o Bloco e a CDU juntos - ninguém estranhará se, nalgumas matérias, procurar o CDS, com quem poderá formar maiorias sem terceiros partidos. Os 98 deputados dão, assim, a Sócrates, uma maleabilidade política que a centena lhe não daria
Ao mesmo tempo, o Bloco de Esquerda sobe, sem se tornar decisivo. O eleitorado fez os seu check and balances, equilibrando a explosão do BE com o boom do CDS - e dando uma palavra à CDU que, para efeitos de acordos de incidência parlamentar, terá exactamente as mesmas condições que o Bloco. Retirou poder a Sócrates, mas deu-lhe todas as possibilidades para a negociação livre. Deixando que seja ele, e só ele, a puxar a carroça do poder mas, desta vez, com um freio nos dentes. Num quadro de maioria relativa, era impossível obter melhores condições de governabilidade.


E QUEM SERÁ NO FUTURO, o líder da direita? O PSD - e isso é historicamente visível, no seu difícil alinhamento em termos de famílias europeias - é um partido híbrido. Institucional, sem ideologia, herdeiro da estrutura corporativa do Estado Novo. Partido de acção mas não de reflexão. A crise do PSD é estrutural e nada tem a ver com as lideranças. Num país europeu clássico, o PSD não teria razões para existir. Na verdade, a Social-democracia é representada, em Portugal, pelo PS (que, no poder, naturalmente, canibaliza as políticas do PSD) e a Democracia Cristã, pelo CDS. E é este o grande desígnio de Paulo Portas: demonstrar que PS e PSD são gémeos siameses e abrir espaço a um grande partido de direita, com bandeiras ideológicas bem definidas. Ora, esse caminho pode ter sido iniciado agora o CDS apresentou três ou quatro ideias básicas - básicas até de mais... -, emancipou-se do PSD e, mais importante, abandonou a sua condição de partido rural para disputar, no litoral, o voto jovem e urbano. Poucos dias depois de ter completado 47 anos, Paulo Portas está mais perto do seu objectivo.

(Curiosamente, o crescimento, em tão poucos anos, do BE, é paralelo, na Europa, ao dos partidos neonazis. E não deixa de ser interessante como, também aqui, Portugal é diferente da maior parte dos outros europeus. Neste caso, e, apesar de tudo, ainda bem.) Filipe Luís in Sexto Sentido – Visão nº 865
Um interessante Artigo de Opinião para refletir, agora que a crise do PPD/PSD é, cada vez mais notória.
A saida de MFL está vista e não se deve aos "fracos" resultados eleitorais, que na realidade não foram, mas á apetência de alguns barões que começam a ver "tachos a voar"...