No último mês de Dezembro, Miguel Sousa Tavares publicou um artigo laudatório do antigo Primeiro-Ministro José Sócrates, com o título O Fantasma de Paris, que tem sido replicado em vários blogues socratistas. Raras vezes vi um artigo com tantos erros factuais. Só na primeira metade do artigo, temos isto:
(…) José Sócrates começou a governar em 2004, recebendo um país com défice de 6,2% (…).
Começou a governar em Março de 2005 e recebeu um défice de 3,4%.
(…) após dois governos PSD/CDS, numa altura em que não havia crise alguma nem problema algum na economia e nos mercados. (…)
Portugal esteve em recessão em 2003, e o crescimento do PIB vinha em queda desde 1998.
(…) Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, foram pioneiros na descoberta de truques de engenharia orçamental para encobrir a verdadeira dimensão das coisas: despesas para o ano seguinte e receitas antecipadas (…)
A antecipação de receitas foi prática corrente dos governos de Guterres – a começar pelo Pagamento Especial por Conta. A principal alínea de desorçamentação – as SCUTS – despesas atiradas para o futuro, foi também uma invenção dos governos de Guterres.
(…) Em 2008, quando terminou o seu primeiro mandato e se reapresentou a eleições, o governo de José Sócrates tinha baixado o défice para 2,8%, sendo o primeiro em muitos anos a cumprir as regras da moeda única. (…)
Em 2008 o défice foi de 3,7%. No mesmo ano, a dívida pública (mesmo sem contar com a dívida desorçamentada) estava em 71,6%, acima dos 60% das “regras da moeda única”. Desde que Cavaco Silva deixou de ser Primeiro-Ministro, Sócrates, conseguir os 3 piores défices. Sócrates teve 5 anos em 6 com défice acima de 3,5%. (aconteceu em 3 anos de Guterres).
(…) E quando se chegou às eleições, o défice nem foi tema de campanha, substituído pelo da “ameaça às liberdades” (…)
Absurdo. Basta recordar este debate:
“…não me lembro de alguém ter questionado, nesse ano de 2009, a política despesista que Sócrates adoptou a conselho de Bruxelas.”
Entre muitos, muitos outros, lembro o manifesto assinado por 28 economistas.
“Pelo contrário, quando Teixeira dos Santos (…) começou a avançar com o PEC, todo o país – partidário, autárquico, empresarial, corporativo e civil – se levantou, indignado, a protestar contra os “sacrifícios” e a suave subida de impostos.”
Muita gente protestou não contra os sacrifícios mas contra a incipiência das medidas. Por exemplo, este blog.
“Passos Coelho quase chorou, a pedir desculpa aos portugueses por viabilizar o PEC 3 que subia as taxas máximas de IRS de 45 para 46,5% (que saudades!)”
Não há motivo para saudades. A taxa máxima de IRS continua em 46,5%.
O resto do artigo é mais opinativo e menos “factual”. Mas compreende-se que partindo de tantos pressupostos errados, as opiniões não possam valer grande coisa. por jcd no Blasfemias