sábado, 10 de março de 2012

Chorar por Sócrates

Cavaco Silva tem um grande problema: não se chama Jorge Sampaio. Se Cavaco fosse dado à lágrima fácil e ao abate de governos sem justificação ou aviso, o Presidente podia escrever o que entendesse sobre Sócrates. O país inteiro, comunicação social incluída, aplaudiria o gesto sem esforço. 
Mas o país, numa espécie de ‘síndrome de Estocolmo’ que só a psiquiatria explica, continua a sentir uma gratidão sincera pelo exilado de Paris que nos levou a todos para o buraco: um homem que, nas palavras de Cavaco (indesmentidas e temo que indesmentíveis), mentiu e manipulou as contas públicas; e, pior, adiou o pedidode ajuda financeira para não perder as eleições. Estas acusações, que estão para lá do imaginável, foram consideradas ‘deselegantes’ pela maioria dos opinativos; e trouxeram mesmo alguns órfãos socráticos, tipo Lello ou Silva Pereira, a chorarem em público pela memória do seu defunto. Um país que ainda respeita Sócrates não merece grande destino. João Pereira Coutinho, em A Voz da Razão no Correio da Manhã