quinta-feira, 12 de novembro de 2009

"Com clientes assim tínhamos mesmo que ser líderes."

Quando Noronha do Nascimento decidiu ser o primeiro presidente do Supremo Tribunal de Justiça a contratar uma agência de comunicação, escolheu a LPM, de Luís Paixão Martins. Questionado sobre esta escolha pela revista Visão em Janeiro de 2007 recusou explicar os seus motivos. Mas é relativamente fácil perceber. Afinal, a LPM é uma das maiores empresas de comunicação do País.

Acontece, porém, que a LPM é mais do que isso - é a agência de comunicação que trabalha há anos com o PS. Em 2005, Luís Paixão Martins fez a campanha socialista. Em 2009, foi consultor. No site da LPM há mesmo uma notícia com uma foto de José Sócrates a celebrar uma vitória eleitoral com o seguinte título: "Com clientes assim tínhamos mesmo que ser líderes."
Esta proximidade entre a LPM e o PS devia impedir a agência de comunicação de trabalhar para o Supremo Tribunal de Justiça? Pela lei, não. Pelo bom senso, sim. Esta semana, soube-se que o presidente do STJ decidiu que as escutas feitas a telefonemas entre Vara e Sócrates deviam ser declaradas nulas - e essa decisão tornou-se notícia. Como existe uma equipa da LPM a trabalhar directamente com o STJ, e a prestar assessoria de comunicação, é natural que se discuta o valor desta informação, se ela deve ou não ser divulgada, de que forma, com que impacto e através de quem. Essas decisões, como é evidente, não devem ser influenciadas por uma empresa que trabalha há anos com o primeiro-ministro, uma vez que se trata de um caso grave que o envolve directamente.

O problema não é da LPM, não é de José Sócrates e não é do Governo - é do Supremo Tribunal de Justiça. Pela sua importância, o STJ tem de estar blindado contra todas as dúvidas e suspeitas. E, neste momento, não está. “O Supremo e as Agências de comunicação” in Semanário Sábado.