sábado, 27 de fevereiro de 2010

Inimigos do povo...


A saloiada nativa não gosta que digam mal da Pátria. Parece que o ‘estrangeiro’ está atento à paróquia e a melhor forma de velar pelos interesses dela é pelo silêncio ou pela fantasia, não pela crítica ou pela verdade.
Há uns tempos, em discurso no Parlamento Europeu, Paulo Rangel avisava que o Estado de Direito estava em risco em Portugal. O discurso era ligeiramente histérico (no conteúdo e no tom), mas a saloiada não perdeu tempo com as palavras do homem; apenas com a atitude dele em levar para fora as nossas misérias internas.
Nesta semana, novo capítulo. Com Manuela Ferreira Leite. A economia portuguesa está a caminho do abismo grego? Não existe economista sério que não contemple essa possibilidade. Mas ter a líder da oposição a verbalizá-la em público é um crime contra a nossa imagem e, no limite, um crime contra Portugal.
Cinco anos de socratismo, no fundo, deram nisto: transformar qualquer crítico do governo em ‘inimigo do povo’, uma categoria célebre que, depois das desgraças do século XX, eu julgava definitivamente enterrada.
João Pereira Coutinho em
Opinião no Correio da Manhã

As ondas de choque resultantes da divulgação das escutas do caso ‘Face Oculta’ estão longe de dissipar-se. Já rolaram cabeças na PT e sabe-se lá o que mais acontecerá. Os depoimentos, na Comissão de Ética, de dois dos protagonistas de muitos dos telefonemas interceptados revelaram-se confrangedores no que respeita ao seu nível, bem como quanto a inteligência, competência e carácter.
Rui Pedro Soares e Paulo Penedos não se limitaram a ser patéticos. Foram também exemplos claros da incompetência que por aí grassa, em organismos públicos e em empresas onde o Estado tem influência directa. Perante todo o País, demonstraram aquilo de que é feito o clientelismo político-partidário e os efeitos nefastos que vem acarretando. Gente que só por subscrever cartão partidário ascende a posições de relevo no mundo empresarial e nas estruturas estatais só fragiliza a sociedade e corrompe valores que lhe são fundamentais. Os ‘boys’ que pululam por todo o lado não são mais do que correias de transmissão e paus-mandados de quem lhes deu os ‘jobs’.
José Eduardo Moniz em Cheiro a podridão em Opinião no Correio da Manhã