terça-feira, 16 de março de 2010

No que o PEC vai mexer nos nossos bolsos

Apesar de se sucederem notícias sobre redução de benefícios fiscais no IRS, das deduções com despesas de saúde e educação, ou da criação de um novo escalão , as consequências das medidas previstas no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) na carteira dos portugueses ainda não são claras para muitas famílias.
O DN foi falar com vários contribuintes, para perceber como vão ser afectados pelo PEC: do administrador Jorge Armindo, que faz parte dos 1% de portugueses com rendimentos superiores a 150 mil euros e que vão pagar a nova taxa de 45% de IRS; a Paulo Inácio, que ganha 500 euros por mês; passando por Carlos Soares, um médico com oito filhos; ou José Duarte, que aguarda a revelação de quanto vão passar a custar as SCUT.
E mesmo sem contas feitas, há preocupações que se repetem: as famílias que falaram com o DN temem perder poder de compra e ver as suas dificuldades económicas agravadas. Ou as do País, onde não é difícil reconhecer os efeitos da crise. Uma crise que vai ser paga sobretudo pela classe média, dizem os fiscalistas. Joaquim Escoval, técnico da Autoeuropa, já tinha essa certeza: "Lá está a classe média a pagar a crise."
DN

Jorge Armindo, presidente executivo da Amorim Turismo, afirma que vai ser penalizado com a nova taxa de IRS prevista no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC). "Vou ter um aumento de taxa. É algo que já tem acontecido nos últimos anos, vou ter um agravamento de 5% no IRS", diz o gestor.
No entanto, Jorge Armindo concorda com esta medida que aumenta a taxa de imposto para quem ganha mais de 150 mil euros ao ano: "Significa que tenho um nível de vida acima da maioria dos portugueses", salienta o responsável, que aceita ter de pagar mais imposto ao Estado.

"Não ser abrangido pelo PEC é sinal que ganho muito pouco", dispara Paulo Inácio, de 30 anos, quando indagado sobre a medida. Casado e com dois filhos, o sapador florestal da Câmara de Vila Nova de Paiva leva "para casa, no final do mês, 500 euros" a que junta os 450 que a mulher, a trabalhar na hotelaria, ganha.
Sobre as medidas de austeridade, impostas pelo Programa, condescende que "talvez sejam necessárias, mas caem sempre sobre os mesmos. No meu caso, que nem chego a atingir rendimentos para majorar as deduções, pouca diferença faz, mas não é uma boa notícia é antes o reconhecimento que ganho mal".

José Duarte ainda não sabe qual será o valor das portagens na A42 e A41, que ligam respectivamente Felgueiras e Paços de Ferreira ao litoral nortenho. Porém, este comerciante de peixe, residente em Marecos (Penafiel), acredita que se os valores forem semelhantes aos que são praticados na A4, então vai ter de despender uma verba mensal na ordem dos 73 euros para pagar os cerca de 70 quilómetros diários que faz nestas vias.
Aos 45 anos, e com um agregado familiar de quatro pessoas, não tem dúvidas em afirmar que "isto está muito complicado". Os 750 euros mensais que aufere da actividade já representam um salário curto para o orçamento familiar. "Da maneira que isto está, tenho de pensar o que vou fazer", conta este comerciante. Que admite mesmo deixar a actividade. "Se meterem portagens talvez deixe de vender peixe. Não só eu como vários familiares meus que se dedicam ao mesmo", acrescenta.
um trabalho intereesante no DN