Um jornalista escreveu que Ricardo Rodrigues se envolvera "com um gangue internacional". Um tribunal disse que a acusação tinha sustentação. Outros jornalistas fizeram-lhe perguntas sobre o assunto. Roubou-lhes o gravador.
O jornalista da SIC Estevão Gago da Câmara escreveu no "Açoriano Oriental", quando o agora conhecido deputado integrou as listas do PS para o parlamento nacional, que este se envolvera "com um gangue internacional". A história de Ricardo Rodrigues está aqui . A verdade é que o deputado a quem os socialistas deram a pasta do combate à corrupção nos debates parlamentares (José Sócrates tem queda para a ironia, o que só prova o seu refinado sentido de humor) recorreu aos tribunais para que o jornalista desse o dito por não dito.
A Justiça deu duas vezes razão a Gago da Câmara. O juiz de instrução concluiu que a acusação de que Ricardo Rodrigues se envolvera "com um gangue internacional" tinha sustentação: "Nesta conformidade, necessário será concluir, como na decisão recorrida, que a imputação feita ao assistente pelo artigo incriminado de se encontrar "envolvido com um gangue internacional" é obviamente insultuosa e indelicada, mas não deixa de estar justificada em factos, que a prova carreada nos autos permite dar, no essencial, como demonstrados." A Relação corroborou a sentença da primeira instância.
Numa entrevista à revista "Sábado" os jornalistas fizeram o seu trabalho: perguntas sobre o assunto. Não se tratava de uma notícia difamatória (o mesmo não se pode dizer da insinuação final) ou sem direito a contraditório. Eram perguntas para Ricardo Rodrigues ter a oportunidade de se defender. O deputado preferiu não responder. Mas, não apreciando as perguntas, fez mais do que isso: roubou os gravadores dos jornalistas, coisa que ainda não tinha ocorrido a ninguém nesta República das Bananas. Para além de pouco sério, o senhor não parece primar pela inteligência. A entrevista estava a ser gravada em vídeo e para além das suas respostas o furto também ficou registado. Se era para se dedicar ao furto, ao menos que fizesse o serviço completo e levasse a câmara. Mas de uma coisa não pode ser acusado: de esconder aquilo que é.
Para se justificar, Ricardo Rodrigues disse que foi vítima de uma "violência psicológica insuportável", "construída sobre premissas falsas" . A violência eram perguntas sobre o caso, as premissas falsas era o acórdão de um tribunal. Julgam que pediu desculpa pelo seu acto "irreflectido"? Claro que não. Ainda avançou com uma providência cautelar contra a revista e deu lições de ética aos jornalistas roubados. Diz que se tratou de uma "acção directa", coisa que, lendo o Código Civil , só poderia sair da sua cabeça inventiva.
A revista "Sábado" vai apresentar queixa por furto (o roubo foi no Parlamento) e ofensa à liberdade de imprensa. Mas cheira-me que este senhor não só continuará deputado como ainda irá dizer mais umas coisas na Assembleia sobre ética e corrupção. Uma coisa é certa: José Sócrates escolhe-os a dedo.
Daniel Oliveira no Expresso.pt
O jornalista da SIC Estevão Gago da Câmara escreveu no "Açoriano Oriental", quando o agora conhecido deputado integrou as listas do PS para o parlamento nacional, que este se envolvera "com um gangue internacional". A história de Ricardo Rodrigues está aqui . A verdade é que o deputado a quem os socialistas deram a pasta do combate à corrupção nos debates parlamentares (José Sócrates tem queda para a ironia, o que só prova o seu refinado sentido de humor) recorreu aos tribunais para que o jornalista desse o dito por não dito.
A Justiça deu duas vezes razão a Gago da Câmara. O juiz de instrução concluiu que a acusação de que Ricardo Rodrigues se envolvera "com um gangue internacional" tinha sustentação: "Nesta conformidade, necessário será concluir, como na decisão recorrida, que a imputação feita ao assistente pelo artigo incriminado de se encontrar "envolvido com um gangue internacional" é obviamente insultuosa e indelicada, mas não deixa de estar justificada em factos, que a prova carreada nos autos permite dar, no essencial, como demonstrados." A Relação corroborou a sentença da primeira instância.
Numa entrevista à revista "Sábado" os jornalistas fizeram o seu trabalho: perguntas sobre o assunto. Não se tratava de uma notícia difamatória (o mesmo não se pode dizer da insinuação final) ou sem direito a contraditório. Eram perguntas para Ricardo Rodrigues ter a oportunidade de se defender. O deputado preferiu não responder. Mas, não apreciando as perguntas, fez mais do que isso: roubou os gravadores dos jornalistas, coisa que ainda não tinha ocorrido a ninguém nesta República das Bananas. Para além de pouco sério, o senhor não parece primar pela inteligência. A entrevista estava a ser gravada em vídeo e para além das suas respostas o furto também ficou registado. Se era para se dedicar ao furto, ao menos que fizesse o serviço completo e levasse a câmara. Mas de uma coisa não pode ser acusado: de esconder aquilo que é.
Para se justificar, Ricardo Rodrigues disse que foi vítima de uma "violência psicológica insuportável", "construída sobre premissas falsas" . A violência eram perguntas sobre o caso, as premissas falsas era o acórdão de um tribunal. Julgam que pediu desculpa pelo seu acto "irreflectido"? Claro que não. Ainda avançou com uma providência cautelar contra a revista e deu lições de ética aos jornalistas roubados. Diz que se tratou de uma "acção directa", coisa que, lendo o Código Civil , só poderia sair da sua cabeça inventiva.
A revista "Sábado" vai apresentar queixa por furto (o roubo foi no Parlamento) e ofensa à liberdade de imprensa. Mas cheira-me que este senhor não só continuará deputado como ainda irá dizer mais umas coisas na Assembleia sobre ética e corrupção. Uma coisa é certa: José Sócrates escolhe-os a dedo.
Daniel Oliveira no Expresso.pt