sábado, 2 de maio de 2009

onde pára a verdade?

Produtora nega culpas no caso dos alunos filmados sem autorização dos pais
Foi a BEPOP quem fez o tempo de antena para o PS
01.05.2009 - 00h01 Mariana Oliveira
A BEBOP – Comunicação Audiovisual, Lda., empresa contratada pelo PS para fazer o tempo de antena que passou na RTP no passado dia 22, nega qualquer responsabilidade no caso dos alunos filmados sem autorização dos pais com o portátil Magalhães numa escola de Castelo de Vide.
A exibição destas imagens em horário nobre na RTP1 gerou enorme contestação na comunidade educativa local e levou o PS a atirar as responsabilidades pela situação para a produtora do filme. O tema também esteve ontem em destaque na Assembleia da República, com o Bloco de Esquerda a pedir um inquérito interno do Ministério da Educação ao sucedido. “Eventualmente por ausência de informação adequada ou de actuação adequada da parte sobretudo da empresa, houve pessoas que participaram no vídeo que não tinham a exacta noção de que as imagens seriam empregues no tempo de antena do PS”, disse anteontem o porta-voz do partido, Vitalino Canas.
Alexandre Reina, sócio-gerente da BEBOP, garante que nunca mentiu a ninguém nem se apresentou na escola como vindo do Ministério da Educação (ME). “Nunca trabalhámos para o Ministério da Educação, como é que diríamos que éramos do Ministério da Educação?”, questiona. O brasileiro deixou, contudo, muitas outras perguntas sem resposta, nomeadamente, porque é que uma empresa que diz ter “grandes clientes, entre os quais, esporadicamente o PS”, não tem um telefone fixo, nem um “site” na Internet. Também não adiantou quem lhe pagou, por que só tem um empregado e há quanto tempo trabalha para os socialistas.
Ontem, o gabinete de imprensa do PS adiantou apenas que o partido “já assumiu a sua responsabilidade e tirou as suas conclusões”.
A presidente do conselho executivo do Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide, Ana Paula Travassos, explicou ontem ao PÚBLICO que foi contactada telefonicamente pela equipa de apoio às escolas em Portalegre e pelos próprios serviços centrais do ME informando-a de umas filmagens que iriam ser realizadas no âmbito do projecto e-escolinhas. O objectivo do ministério era perceber o impacto que o computador Magalhães estava a ter em termos pedagógicos e como estava a ser utilizado pelos alunos. “Nada mais me foi dito”, garante a presidente do agrupamento a que pertence a escola do primeiro ciclo frequentada pelos alunos filmados. E completa: “Foi com base nesta informação que pedimos autorização aos pais para a realização das filmagens. Nunca imaginámos a utilização posterior das imagens”. O coordenador da área educativa de Portalegre até acompanhou as gravações, tendo a empresa produtora dado a informação que trabalhava para o ministério, acrescenta Ana Paula Travassos. A professora sente-se revoltada e diz que ainda está à espera de um pedido de desculpa. “O pedido enviado pelo secretário-geral do PS dirige-se aos pais das crianças e a uma professora que estava na sala”, precisa.
A versão contradiz as palavras da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que ontem excluiu qualquer ligação entre o seu ministério e a gravação realizada. “Lamentamos o ocorrido, o PS já veio pedir desculpa aos pais dos alunos e à própria escola pelo facto de não ter sido inteiramente respeitado o direito à protecção da imagem por parte de crianças”, salientou. Em Castelo de Vide, “houve um problema de comunicação, que o ME lamenta”. “A lição que retiramos deste episódio é a necessidade de estarmos mais atentos em relação ao respeito à protecção da imagem por parte dos nossos alunos”, frisou.
Os partidos da oposição condenaram ontem a “apropriação de imagens” dos alunos.
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O PÚBLICO também pediu esclarecimentos ao ME mas até agora não os recebeu.