65.290 votam em Salazar
Em dez semanas de concurso, a RTP recebeu 214.972 chamadas que custaram 129 mil euros ao público, mas a audiência da final deu só o 16.º lugar no domingo, muito atrás do ‘Gato’ e de Marcelo.
Foi como a RTP quis. O ‘salvador ou ditador?’ afixado em cartazes do promoção do concurso ‘Os Grandes Portugueses’ acabou por ganhar com 65 290 votos a eleição em que participaram menos de 160 mil telespectadores. Muito abaixo dos 656 300 que de acordo com os estudos de audiência viram o programa de domingo à noite. A manipulação da História acabou por valer pouco, apesar de se calcular que os votantes gastassem no total cerca de 129 mil euros. Para o historiador Fernando Rosas, a intenção foi no entanto “montar uma grande final sangrenta entre Cunhal e Salazar, com muito sangue e muitos telespectadores”.Confirmado o resultado previsto, as reacções são variadas. Desde quem lastime o falhanço na Educação que provoca um desconhecimento da História de Portugal e dá uma atenção exagerada ao que é mais recente e ainda não se pode apreciar como perspectiva histórica, a quem, como o Rosado Fernandes, que no concurso defendia o Marquês de Pombal, aponta que o resultado da votação é “um protesto indignado de quem se sente inseguro por não terem sido concretizadas as promessas feitas nos mais de trinta anos de democracia”. Para este professor da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, e também proprietário de extensos terrenos agrícolas no Alentejo, “Salazar não foi votado por salazaristas que quase já não existirão, mas por pessoas muito inquietas com o seu dia-a-dia e o seu futuro, por causa dos ataques às classes mais pobres, os cortes nas reformas e o desemprego”, que tanto afectam os portugueses. Na opinião de Rosado Fernandes, “há muitos portugueses que estariam dispostos a sacrificar uma parte da sua liberdade individual por um pouco de mais segurança em todos os aspectos, principalmente quanto ao emprego”.Logo nas primeiras reacções após o anuncio dos resultados por Maria Elisa, o prof. Rosado Fernandes foi o que mais aproveitou a situação para clamar com o estado de coisas na democracia portuguesa. Depois de dormido, interpelado pelo CM, acentuou as mesmas posições afirmando-se como um inconformado com a situação desde o sistema errante do ensino à falta de atenção aos campos e ao “desemprego que faz as pessoas desejarem ditadores”. A atitude crítica manteve-a mesmo quando confrontado com o facto de como proprietário agrícola ser dos portugueses mais beneficiados com os apoios comunitários. E retorquiu:“Posso ser dos portugueses a receber mais subsídios, mas recebo a quinta parte do que beneficia um francês com a mesma extensão de propriedades. Os subsídios são para reparar a falta de rendimentos. Tem de se pagar a quem trabalha e ninguém cava com as mãos, mas com tractores que custam oito mil contos.”Para quem considera um resultado negativo que o ditador do Estado Novo acabasse o mais votado no concurso da RTP, a culpa é da forma como a RTP promoveu o concurso.“Países com ditadores recentes como Salazar em Portugal pensaram melhor este tipo de situações”, observou Fernando Rosas ao lembrar que na Alemanha não se permitiu a entrada de Hitler no concurso e na Espanha e Itália decidiram não fazer este passatempo criado pela BBC britânica e que ele considera acabar com “uma vergonha para a democracia” que podia ser evitada.
Em dez semanas de concurso, a RTP recebeu 214.972 chamadas que custaram 129 mil euros ao público, mas a audiência da final deu só o 16.º lugar no domingo, muito atrás do ‘Gato’ e de Marcelo.
Foi como a RTP quis. O ‘salvador ou ditador?’ afixado em cartazes do promoção do concurso ‘Os Grandes Portugueses’ acabou por ganhar com 65 290 votos a eleição em que participaram menos de 160 mil telespectadores. Muito abaixo dos 656 300 que de acordo com os estudos de audiência viram o programa de domingo à noite. A manipulação da História acabou por valer pouco, apesar de se calcular que os votantes gastassem no total cerca de 129 mil euros. Para o historiador Fernando Rosas, a intenção foi no entanto “montar uma grande final sangrenta entre Cunhal e Salazar, com muito sangue e muitos telespectadores”.Confirmado o resultado previsto, as reacções são variadas. Desde quem lastime o falhanço na Educação que provoca um desconhecimento da História de Portugal e dá uma atenção exagerada ao que é mais recente e ainda não se pode apreciar como perspectiva histórica, a quem, como o Rosado Fernandes, que no concurso defendia o Marquês de Pombal, aponta que o resultado da votação é “um protesto indignado de quem se sente inseguro por não terem sido concretizadas as promessas feitas nos mais de trinta anos de democracia”. Para este professor da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, e também proprietário de extensos terrenos agrícolas no Alentejo, “Salazar não foi votado por salazaristas que quase já não existirão, mas por pessoas muito inquietas com o seu dia-a-dia e o seu futuro, por causa dos ataques às classes mais pobres, os cortes nas reformas e o desemprego”, que tanto afectam os portugueses. Na opinião de Rosado Fernandes, “há muitos portugueses que estariam dispostos a sacrificar uma parte da sua liberdade individual por um pouco de mais segurança em todos os aspectos, principalmente quanto ao emprego”.Logo nas primeiras reacções após o anuncio dos resultados por Maria Elisa, o prof. Rosado Fernandes foi o que mais aproveitou a situação para clamar com o estado de coisas na democracia portuguesa. Depois de dormido, interpelado pelo CM, acentuou as mesmas posições afirmando-se como um inconformado com a situação desde o sistema errante do ensino à falta de atenção aos campos e ao “desemprego que faz as pessoas desejarem ditadores”. A atitude crítica manteve-a mesmo quando confrontado com o facto de como proprietário agrícola ser dos portugueses mais beneficiados com os apoios comunitários. E retorquiu:“Posso ser dos portugueses a receber mais subsídios, mas recebo a quinta parte do que beneficia um francês com a mesma extensão de propriedades. Os subsídios são para reparar a falta de rendimentos. Tem de se pagar a quem trabalha e ninguém cava com as mãos, mas com tractores que custam oito mil contos.”Para quem considera um resultado negativo que o ditador do Estado Novo acabasse o mais votado no concurso da RTP, a culpa é da forma como a RTP promoveu o concurso.“Países com ditadores recentes como Salazar em Portugal pensaram melhor este tipo de situações”, observou Fernando Rosas ao lembrar que na Alemanha não se permitiu a entrada de Hitler no concurso e na Espanha e Itália decidiram não fazer este passatempo criado pela BBC britânica e que ele considera acabar com “uma vergonha para a democracia” que podia ser evitada.
REACÇÕES
"MISTIFICAÇÃO E DETURPAÇÃO DA HISTÓRIA"
"MISTIFICAÇÃO E DETURPAÇÃO DA HISTÓRIA"
Para o historiador Fernando Rosas, que se recusou a participar em qualquer evento do concurso ‘Os Grandes Portugueses’, o resultado final foi “o consumar da farsa manipulatória que se viu desde o lançamento do programa, com o esperado primeiro lugar de Salazar”. O docente universitário responsável pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa considera que “ a RTP prestou um péssimo serviço à historiografia e contribuiu apenas para a mistificação e deturpação do que é a História’, o que podia ser evitado.
"REFLECTE INCULTURA" (Victor Ramalho PS)Reflecte uma incultura geral dos portugueses. E isso é grave. Na escola e na formação dos jovens foi descurada a nossa História.
"SINAL DE MAL-ESTAR" (Angelo Correia PSD)É um sinal de mal-estar e de desencanto de muitos portugueses com o andamento da democracia. É uma forma de protesto.
"PROFUNDO LAMENTO" (João Rebelo CDS)Lamento. Não foi de certeza a figura mais importante da História de Portugal, quando há D. João II ou D. Afonso Henriques. CM 2007-03-27 - 00:00:00