sexta-feira, 6 de julho de 2007

SER JORNALISTA


Pergunte-se a qualquer jornalista com uns anitos de profissão o que pensa do jornalismo que se faz em Portugal. O mais certo é que fale da orientação superficial e sensacionalista dos media; da sua perspectiva cada vez mais dirigida para o lucro e menos para a seriedade da abordagem e a responsabilidade social; da juvenilização acelerada das redacções e da exploração dos estagiários; do progressivo alheamento dos jornalistas da definição do rumo dos órgãos para os quais trabalham, com os Conselhos de Redacção a serem reduzidos a verbos de encher ou não existindo sequer. Ficará a impressão de uma falta de lastro generalizada e de uma tendência para o pontapé na deontologia - que em alguns casos alcança a selvajaria.
Apesar de esta visão da actividade ser comum a muita da classe, os jornalistas nada fizeram para dirimir a situação. Não criaram ou propuseram qualquer estrutura profissional fiscalizadora, convivendo alegremente com o facto de restar a quem se considerasse afectado pela actividade jornalística o recurso aos tribunais, à Autoridade para a Comunicação Social ou ao Conselho Deontológico do Sindicato. Sendo que este órgão do sindicato só tem "jurisdição" sobre os jornalistas sindicalizados e mesmo a esses só pode "recomendar" ou "censurar"; sendo que a Alta Autoridade (substituída pela Entidade Reguladora) tinha apenas poder para decidir sobre recusas de direito de resposta e decretar a sua publicação, e censurar condutas - mas sem efeito prático para os jornalistas; sendo que os tribunais não se podem pronunciar sobre uma série de faltas deontológicas e quando o fazem levam os anos e anos da praxe.

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Tudo isto me faz lembrar uma frase do jornalista e escritor sueco Stig Dagerman: "Ser jornalista é chegar atrasado assim que possível."

Contra mim falo, e aqui faço o meu mea culpa.

Espero pois poder ousar uma pergunta: estávamos à espera de quê? DN Sexta, 6 de Julho de 2007 Fernanda Câncio