I. 2007-2010: a dívida portuguesa cresceu mais 41% (repito: 41%) do que a média da UE. Ora, perante dados como este, muita gente pergunta: "mas como é possível ainda haver gente que vota na irresponsabilidade de Sócrates?". A questão é mais do que justa, mas esquece um pormenor: no terreno, na realidade, esta dívida socrática equivale à compra de votos, equivale ao aumento dos dependentes do Estado (em várias formas). Sócrates endividou o país de forma criminosa, mas com isso comprou votos. Há pessoas a fazer as creches e os hospitais e as estradas, etc., etc. E depois há gente que vai trabalhar nessa artilharia-estatal-construída-pela-dívida. Tudo isto é insustentável? É. Gastar todo este dinheiro agora é um acto populista sem nome? É. Mas aquelas pessoas que estão a beneficiar deste esquema não pensam assim, como é óbvio. E o seu voto reflecte isso. Estas pessoas não querem saber dos gráficos da dívida. Querem saber daquilo que cai na conta todos os meses.
II. Este aumento brutal da dívida serviu para Sócrates aumentar (ainda mais) as hordas de dependentes do Estado (funcionários e beneficiários; o "partido-Estado" de Medina Carreira) que são a base eleitoral do PS. Este povo (do sr. dr. ao sr. RSI) que gira em torno do Estado é o povo do statu quo, é o povo que reage a qualquer mudança, é o povo que se agarre àqueles que dizem que não é preciso mudar muita coisa. E, se repararem, Sócrates, depois disto tudo, continua a dizer que não é preciso mudar muito. Os "maus" (a direita) é que querem destruir o nosso querido esquema. Portanto, não vale a pena dizer o "povo é burro", que o "povo gosta de levar pancada", que "o povo está escravizado e não consegue ver a realidade". Isso é ficar pela rama. Isso é não perceber a perversidade da política conduzida pelo PS e por Sócrates (aumentar os dependentes do Estado, aumentando assim a sua base eleitoral). Isso é não perceber o monstro que é preciso destruir. Isso é não perceber que o terreno está minado. Isso é ser ingénuo. Isso é pensar que a democracia escolhe quem tem razão. por Henrique Raposo no Expresso