Foi o melhor dos debates até agora realizado. Não porque Paulo Portas e Jerónimo de Sousa concordassem. Não o fizeram. Pelo contrário, assumiram a oposição dos seus projectos. Mas foi o melhor dos debates até agora realizado precisamente pela forma cristalina como foi possível perceber a oposição frontal entre o que o PCP e o CDS querem para a sociedade portuguesa.Transmitido pela SIC e bem moderado por Clara de Sousa, o debate decorreu de forma educada, com ambos os líderes melhor preparados que nos anteriores debates, se bem que Portas se tenha irritado quando foi abordado o tema da Saúde ou quando no final roubou a palavra a Jerónimo. Precisamente no tema que foi uma novidade – a agricultura.O líder do PCP sublinhou o atraso e os desequilíbrios da agricultura portuguesa, para defender a necessidade de investimento neste sector e criticar os sucessivos governos, afirmando: “Um dia vão ter de explicar” onde foram aplicados os fundos comunitários e o lucro das privatizações. E pediu uma distribuição “mais justa” dos fundos comunitários aos agricultores.Na resposta, Portas assumiu que o seu CDS e o PCP tinham sido os dois únicos partidos a falar de agricultura e pescas no Parlamento durante a legislatura. E disparou contra o Governo considerando que o ministro Jaime Silva é o “pior ministro” que a Agricultura já teve em democracia, acrescentando que ele foi responsável pela não aplicação de milhões de euros da União Europeia. E, concordando com Jerónimo de Sousa, questionou-se sobre como estaria a agricultura se tivesse sido feito investimento?Foi precisamente na réplica, quando o secretário-geral do PCP puxou para cima da mesa o Governo liderado por Durão Barroso e Paulo Portas, que este começou a falar por cima do líder do PCP acabando por lhe roubar a palavra, sob os protestos da moderadora que dizia: “Deixe ouvir.”O debate começou pelas questões económicas, tendo Jerónimo criticado o facto de quando se fala em cortes nos custos das empresas se falar só dos salários dos trabalhadores, quando estes representam só 22 por cento dos custos gerais. Insistiu na valorização dos salários.E afirmou o objectivo do pleno emprego. Não se esqueceu ainda de lembrar que quando o CDS foi Governo, em 2005, Portas não falava das pequenas e médias empresas. Portas aproveitou para criticar as medidas do Governo e defendeu a correcção do adiamento do direito ao subsídio de desemprego nos jovens e do adiamento da possibilidade de reforma aos desempregados de longa duração. E ainda o apoio aos casais desempregados. Assim como propôs que os lucros fossem parcialmente distribuídos pelos trabalhadores.Quanto à política fiscal, as discordâncias foram visíveis. Portas afirmou que “a pressão fiscal subiu de 34 para 38 por cento”. E Jerónimo na resposta considerou que os cerca de 770 milhões de euros que se perdem com a baixa de impostos são necessários, defendendo que os impostos devem é ser aumentados em relação à banca. “Ninguém compreende que a banca pague 15 por cento de IRC enquanto os pequenos e médios empresários pagam 20 por cento”, afirmou.Já sobre o financiamento das políticas sociais, o líder do PCP insistiu no lucro perdido com a privatização de empresas como a GALP. E Portas avançou com a proposta da revisão das SCUT.As divergências foram também transparentes em relação ao Serviço Nacional de Saúde. Portas defendeu que “80 por cento dos portugueses dependem do SNS” pelo que é “preciso contratualizar” serviços com o sector social, ou seja, os hospitais das Misericórdias, e depois com o sector privado. Jerónimo de Sousa defendeu que apenas como complemento se deve recorrer aos privados e que a aposta deve ser na recuperação do SNS que, garantiu, foi atacado pelo Governo do PS. PUBLICO.PT