No final de 2006, num almoço em S. Bento com a direcção do SOL, José Sócrates, acompanhado pelo seu staff de assessores e ministros mais próximos, explanou convictamente uma tese curiosa – a de que sabia como a direita dominava os órgãos de comunicação social em Portugal: controlando os patrões desses meios de informação.
A tese estava pouco fundamentada, faltaram mesmo ao primeiro-ministro argumentos para a sustentar. E o encontro em S. Bento com a direcção do SOL, que acabara de ser lançado nas bancas, foi o primeiro e último até hoje. Mas estes três anos e meio vieram comprovar que, mais do que uma diletante tese académica, as palavras de José Sócrates configuravam toda uma linha de orientação do poder governamental em relação à comunicação social: condicionar os patrões (através de satisfação de interesses, da promessa da expansão de negócios ou da ameaça de problemas), colocar jornalistas politicamente alinhados em postos decisores, calar espaços de informação com notícias incómodas, afastar de cena toda e qualquer voz crítica para com o poder em funções.
Não há memória de um Governo e de um primeiro-ministro, de Guterres a Cavaco, de Barroso a Soares, com semelhante pulsão controleira e persecutória da comunicação social. Mas a tese de Sócrates, além de infundada, radica numa ilusão: a de que é possível, numa sociedade democrática, controlar os meios de comunicação, silenciar o pensamento livre e discordante. Pode conseguir-se, temporariamente, a subserviência de vários e até suspender algumas opiniões desalinhadas – como, aliás, se tem visto. Não se consegue é calar tudo e todos, porque a liberdade de expressão e a independência jornalística sobrevivem sempre em democracia, fazem parte da própria democracia.
O episódio das críticas destemperadas ao jornalista Mário Crespo é apenas mais um e vem na senda, entre outros, do ataque transtornado que Sócrates fez ao Jornal de 6.ª de Manuela Moura Guedes.
Há, ainda assim, dois aspectos que impressionam nesta política controleira e antidemocrática. A atitude intolerante e obcecada do primeiro-ministro, que o leva a extremos coléricos de perder a cabeça em público, seja no Parlamento seja num restaurante. E a gente desqualificada e sem estatura moral que o rodeia e leva à prática essa política – as escutas do processo Face Oculta são um bom espelho da degradação a que se chegou.
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A tese estava pouco fundamentada, faltaram mesmo ao primeiro-ministro argumentos para a sustentar. E o encontro em S. Bento com a direcção do SOL, que acabara de ser lançado nas bancas, foi o primeiro e último até hoje. Mas estes três anos e meio vieram comprovar que, mais do que uma diletante tese académica, as palavras de José Sócrates configuravam toda uma linha de orientação do poder governamental em relação à comunicação social: condicionar os patrões (através de satisfação de interesses, da promessa da expansão de negócios ou da ameaça de problemas), colocar jornalistas politicamente alinhados em postos decisores, calar espaços de informação com notícias incómodas, afastar de cena toda e qualquer voz crítica para com o poder em funções.
Não há memória de um Governo e de um primeiro-ministro, de Guterres a Cavaco, de Barroso a Soares, com semelhante pulsão controleira e persecutória da comunicação social. Mas a tese de Sócrates, além de infundada, radica numa ilusão: a de que é possível, numa sociedade democrática, controlar os meios de comunicação, silenciar o pensamento livre e discordante. Pode conseguir-se, temporariamente, a subserviência de vários e até suspender algumas opiniões desalinhadas – como, aliás, se tem visto. Não se consegue é calar tudo e todos, porque a liberdade de expressão e a independência jornalística sobrevivem sempre em democracia, fazem parte da própria democracia.
O episódio das críticas destemperadas ao jornalista Mário Crespo é apenas mais um e vem na senda, entre outros, do ataque transtornado que Sócrates fez ao Jornal de 6.ª de Manuela Moura Guedes.
Há, ainda assim, dois aspectos que impressionam nesta política controleira e antidemocrática. A atitude intolerante e obcecada do primeiro-ministro, que o leva a extremos coléricos de perder a cabeça em público, seja no Parlamento seja num restaurante. E a gente desqualificada e sem estatura moral que o rodeia e leva à prática essa política – as escutas do processo Face Oculta são um bom espelho da degradação a que se chegou.
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