terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma história de enganos

“As previsões falharam redondamente em todo o lado e não foi porque houvesse intenção de enganar”, disse hoje Teixeira dos Santos, citado no Público. O ministro das Finanças não teve intenção de nos enganar, mas há um padrão curioso de chegar à verdade tão tarde, que temos dificuldade em acreditar que ele próprio acreditava no que dizia.
Recordemos então uma pequena história com um ano de vida:
2,2% - previsão do défice para 2009 no Orçamento do Estado apresentado em Outubro de 2008, no momento em que a economia mundial desabava como uma avalanche. O Lehman Brothers já tinha falido;
3,9% - previsão do défice em Janeiro de 2009, no orçamento chamado suplementar;
5,9% - meta para o défice e compromisso do PS em Setembro de 2009 na campanha eleitoral das legislativas, quando Bruxelas já falava em níveis próximos dos 8%;
8,0% - a seguir às eleições, só a seguir às eleições, no orçamento crismado como redestributivo (este medo que os políticos têm das palavras é uma coisa orweliana...), é que o Governo reconhece este valor para o défice;
9,3% - valor do défice apurado para 2009 com o ministro e o governador do Banco de Portugal a dizerem que foram apanhados de surpresa, que coisa, que raio é que aconteceu neste país? Ah, não faz mal, diz Sócrates, aconteceu o mesmo aos nossos vizinhos próximos e afastados e até nos EUA e no Japão, pá!
Posto isto, umas perguntinhas:
Entre a primeira previsão e a última, o défice cresceu 7,1%.
1- Destes 7,1%, quanto é que se deve à quebra de receitas fiscais fruto da crise?
2 - Que percentagem do défice se deve a apoios extraordinários para incentivar a economia?
3- Para onde foram os apoios à economia, para que empresas?
4- Quais os resultados práticos dos apoios estatais à economia? Que resultados deram nessas empresas?
5- Quanto é que foi desperdício, dinheiro mal gasto ou simplesmente dinheiro nosso atirado aos problemas?

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Elevador da Bica: Uma história de enganos