(ponto prévio) Sócrates está hoje numa situação desconfortável, talvez a mais difícil desde 2005, vendo-se envolvido no Face Oculta, acusado de ‘contratar’ Figo para a campanha eleitoral, envolto numa crise nacional crescente e sob a vigilância das instituições internacionais. Depois de no PS se falar da sua substituição, o primeiro-ministro reuniu o partido para juntar forças e fez um esclarecimento público sobre o seu (não) envolvimento na conspiração de controlo dos media. Não correu bem: o seu comportamento no partido foi interpretado como sinal de fraqueza e/ou nervosismo, e o seu esclarecimento nada esclareceu, caindo no vazio. Esta entrevista de hoje era, por isso, da maior importância para José Sócrates, que tinha aqui uma oportunidade para limpar a sua imagem política e convencer os portugueses que existe de facto um rumo na sua governação. Ou seja, convencer-nos que ainda faz parte da solução e não do problema.
Madeira. Decretou-se o luto nacional e mobilização de estruturas para dar apoio ao Governo Regional, quer-se accionar o fundo de solidariedade europeu, e auxiliar ao comércio do Funchal. Afirmou solidariedade para com os madeirenses, garantindo que o Governo estará ao lado do Governo Regional da Madeira, com cooperação total. Mostrou-se firme e informado. Sobre a construção em leitos de cheia: Sócrates nega que o Governo tenha construído em leitos de cheia, e afasta a discussão (pareceu apanhado de surpresa).
Figo. Sócrates recusa a interpretação de que o apoio de Figo foi comprado. Remete para a entrevista que Figo deu ao DE, quando o Governo soube de que Figo o apoiava. Sócrates nega todas as acusações peremptoriamente. Não é, contudo, capaz de explicar a ‘coincidência’ de tudo ter acontecido no mesmo dia, nem o facto de Penedos e Perestrello se terem referido antecipadamente ao assunto. Não responde porque recusa falar sobre as escutas: opta por afastar a realidade, defendendo que se tratam de ‘conversas privadas’.
PT e a compra da TVI. Sócrates reitera que não teve qualquer envolvimento. Defende-se com a mais recente violação ao segredo de justiça, onde o PGR declara que não está envolvido (na questão anterior, recusou-se a comentar violações de segredo de justiça, mas aqui já o faz). Confrontado com as transcrições das escutas relativas ao caso, Sócrates recusa-se novamente a comentar o seu conteúdo (diz que não comenta resultados de violações ao segredo de justiça). Distingue as transcrições pelo ‘facto’ das primeiras serem ‘conversas privadas’, e afirma que se nessas o seu nome foi referido, tal foi feito abusivamente.
Rui Pedro Soares e a sucessão de casos que o envolvem. Jobs for the boys? Sócrates nega qualquer envolvimento na subida de carreira de Rui Pedro Soares na PT, e diz que Miguel Sousa Tavares está a ser injusto nos seus ‘julgamentos apressados’. Afirma que sempre prestou todos os esclarecimentos (o que não é verdade, de todo). Tentou ridicularizar a sucessão de casos, e argumentou a sua legitimidade com base no acto eleitoral (o que não faz sentido).
Justiça. Ataque à Oposição que, segundo ele, aproveitou os ‘crimes’ para o ferir politicamente. Considera necessário reformar a lei do ‘segredo de justiça’. Adopta um tom moralista, questionando o ‘interesse público’ nas recentes polémicas, e argumenta sempre com base na preservação das ‘liberdades individuais’. Um argumento falacioso, pois o enfraquecimento do Estado de Direito afecta directamente as liberdades individuais.
Economia. Sócrates defende que Portugal está a sofrer as mesmas dificuldades que os restantes países da UE. Munido de números, relativizou a nossa situação, como que pretendendo explicar-nos que estamos melhor que todos os outros. Confunde a crise nacional com a internacional. É o pior discurso possível, pois opta por afastar a realidade. Meteu a cassete do investimento público como resposta à crise, desvalorizando o relatório da SEDES. Cita Krugman para legitimar as suas opções políticas. Evita falar do PEC.
Conclusão. Foi uma entrevista que não trouxe nada de novo nas áreas da Economia e da Justiça. Sócrates não esclareceu nada quanto aos casos em que o seu nome foi referido, utilizando as violações ao segredo de justiça como mais lhe convinha, para não ter de comentar as escutas. Continuam a faltar esclarecimentos, até porque as explicações sobre o caso 'Figo' são extremamente frágeis, e ninguém engole que um negócio estratégico na PT fosse feito sem conhecimento do Estado. Por isso, não esclareceu ninguém nem limpou a sua imagem.
(Miguel Sousa Tavares, em boa forma, a fazer as perguntas certas e a questionar as respostas do primeiro-ministro. Esteve bem.) por Alexandre Homem Cristo em O Cachimbo de Magritte
Madeira. Decretou-se o luto nacional e mobilização de estruturas para dar apoio ao Governo Regional, quer-se accionar o fundo de solidariedade europeu, e auxiliar ao comércio do Funchal. Afirmou solidariedade para com os madeirenses, garantindo que o Governo estará ao lado do Governo Regional da Madeira, com cooperação total. Mostrou-se firme e informado. Sobre a construção em leitos de cheia: Sócrates nega que o Governo tenha construído em leitos de cheia, e afasta a discussão (pareceu apanhado de surpresa).
Figo. Sócrates recusa a interpretação de que o apoio de Figo foi comprado. Remete para a entrevista que Figo deu ao DE, quando o Governo soube de que Figo o apoiava. Sócrates nega todas as acusações peremptoriamente. Não é, contudo, capaz de explicar a ‘coincidência’ de tudo ter acontecido no mesmo dia, nem o facto de Penedos e Perestrello se terem referido antecipadamente ao assunto. Não responde porque recusa falar sobre as escutas: opta por afastar a realidade, defendendo que se tratam de ‘conversas privadas’.
PT e a compra da TVI. Sócrates reitera que não teve qualquer envolvimento. Defende-se com a mais recente violação ao segredo de justiça, onde o PGR declara que não está envolvido (na questão anterior, recusou-se a comentar violações de segredo de justiça, mas aqui já o faz). Confrontado com as transcrições das escutas relativas ao caso, Sócrates recusa-se novamente a comentar o seu conteúdo (diz que não comenta resultados de violações ao segredo de justiça). Distingue as transcrições pelo ‘facto’ das primeiras serem ‘conversas privadas’, e afirma que se nessas o seu nome foi referido, tal foi feito abusivamente.
Rui Pedro Soares e a sucessão de casos que o envolvem. Jobs for the boys? Sócrates nega qualquer envolvimento na subida de carreira de Rui Pedro Soares na PT, e diz que Miguel Sousa Tavares está a ser injusto nos seus ‘julgamentos apressados’. Afirma que sempre prestou todos os esclarecimentos (o que não é verdade, de todo). Tentou ridicularizar a sucessão de casos, e argumentou a sua legitimidade com base no acto eleitoral (o que não faz sentido).
Justiça. Ataque à Oposição que, segundo ele, aproveitou os ‘crimes’ para o ferir politicamente. Considera necessário reformar a lei do ‘segredo de justiça’. Adopta um tom moralista, questionando o ‘interesse público’ nas recentes polémicas, e argumenta sempre com base na preservação das ‘liberdades individuais’. Um argumento falacioso, pois o enfraquecimento do Estado de Direito afecta directamente as liberdades individuais.
Economia. Sócrates defende que Portugal está a sofrer as mesmas dificuldades que os restantes países da UE. Munido de números, relativizou a nossa situação, como que pretendendo explicar-nos que estamos melhor que todos os outros. Confunde a crise nacional com a internacional. É o pior discurso possível, pois opta por afastar a realidade. Meteu a cassete do investimento público como resposta à crise, desvalorizando o relatório da SEDES. Cita Krugman para legitimar as suas opções políticas. Evita falar do PEC.
Conclusão. Foi uma entrevista que não trouxe nada de novo nas áreas da Economia e da Justiça. Sócrates não esclareceu nada quanto aos casos em que o seu nome foi referido, utilizando as violações ao segredo de justiça como mais lhe convinha, para não ter de comentar as escutas. Continuam a faltar esclarecimentos, até porque as explicações sobre o caso 'Figo' são extremamente frágeis, e ninguém engole que um negócio estratégico na PT fosse feito sem conhecimento do Estado. Por isso, não esclareceu ninguém nem limpou a sua imagem.
(Miguel Sousa Tavares, em boa forma, a fazer as perguntas certas e a questionar as respostas do primeiro-ministro. Esteve bem.) por Alexandre Homem Cristo em O Cachimbo de Magritte