sábado, 3 de abril de 2010

O que nós não conseguimos saber*


As eleições italianas converteram-se num caso patológico do jornalismo português e não só. Invariavelmente de Berlusconi não se sabe nada a não ser as palhaçadas. Mesmo notícias muito inquietantes como o seu apoio a Putin no caso dos gasodutos que deverão abastecer a Europa passam em branco no meio desta visão folclórica a que a comunicação social reduziu o governante italiano. Quando se aproximam os actos eleitorais, Berlusconi começa a ser dado como derrotado. No dia anterior às eleições é certo que vai perder. E no dia seguinte às eleições quando abro o jornal constato que Berlusconi ganhou. Como por razões que nada têm a ver com a Itália me interessa muito perceber o que leva um povo a votar num líder envolvido em casos de corrupção e que diz e desdiz uma coisa e o seu contrário muito gostaria que se fizessem notícias sobre Berlusconi e que terminassem estes exercícios sobre o que nós gostaríamos que acontecesse em Itália mas não acontece. Publicado por helenafmatos em 3 Abril, 2010 no Blasfémias

*PÚBLICO

Ps. Algumas dessas notícias tornam-se mesmo um caso de hermenêutica como o Gabriel aqui exemplificou:

Por vezes, certas notícias são escritas de uma forma tão enviesada, tão inversa aos factos, tão p.c., que é necessário um tradutor. Aqui fica o meu contributo.
No Público de hoje
diz-se:

«Mesmo assim,[Berlusconi] foi punido, através da abstenção, que terá sobretudo tocado os seus eleitores “desafectos”, segundo as primeiras hipóteses avançados por politólogos.»
Tradução: Mesmo assim, Berlusconi foi o grande beneficiado pela crescimento da abstenção, significando que parte do eleitorado não se reviu na alternativa nos partidos da esquerda, conseguindo a coligação do primeiro-ministro italiano consolidar posições e conquistar duas regiões às forças de esquerda, quando o pm tinha apontado o objectivo de vencer em apenas mais uma.

«Berlusconi terá falhado a sua dramatização e o comportamento eleitoral estará também a mudar.»
Tradução: Berlusconi obtêm uma vitória, apesar de todas as polémicas, sendo que a esquerda falhou ao não conseguir mobilizar o seu eleitorado. O comportamento eleitoral estará também a mudar.

«Com um discurso que já não é apenas xenófobo nem meramente anti-Sul, mas defensor do tecido produtivo, proteccionista e denunciador da globalização – como a exigência de limitar as importações da China…..»
Tradução: Com um discurso que ora se aproxima das teses mais xenófobas, ora partilhando de teses que são comuns às forças da esquerda mais extremista, com eco nos tradicionais partidos comunistas e em novas formações politicas que tem vindo a surgir em toda a Europa como o Bloco de Esquerda ou o Nouveu Parti Anticapitaliste francês, defensor do tecido produtivo ….»
Publicado por Gabriel Silva em 31 Março, 2010 no
BLASFÉMIAS